COP26: Juventude, presente!
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Mais de trinta mil pessoas, representando delegações, mídia e ONGs de todo o mundo, estiveram em Glasgow, na Escócia, para a COP26, Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que terminou no dia 12 de novembro. Esta é a quinta vez que líderes das nações se reúnem desde que firmaram o Acordo de Paris, em 2015, assumindo o compromisso de limitar o aquecimento global bem abaixo de 2°C e envidar esforços para que não se ultrapasse 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Foi grande a expectativa em torno desta Conferência do Clima justamente porque a cada cinco encontros os países revisitam suas metas para reduzir emissões de gases de efeito estufa e seus planos de adaptação aos impactos das mudanças climáticas, que já se fazem sentir de forma cada vez mais intensa e frequente. Portanto, esta é uma reunião de prestação de contas.
E, não é uma prestação de contas qualquer. Desde 1850, a temperatura média do planeta aumentou 1,1℃. Daqui pra frente, a progressão tende a ser rápida, afirmam os cientistas. Eles estimam que ultrapassaremos 1,5 ℃ no início de 2030, com efeitos devastadores sobre a disponibilidade de água, alimentos, energia, a resiliência de cidades e infraestruturas públicas e sobre a saúde humana. Isso, sem falar na onda de extinção de espécies. O que pode ser mais importante do que essa prestação de contas? O que pode ser mais urgente do que garantir que o acordo global sobre o clima se efetue?
A despeito da relevância e urgência, as manchetes dos jornais anunciaram as ausências de chefes de Estado na COP26, como Xi Jinping da China, Vladimir Putin da Rússia e Jair Bolsonaro do Brasil. Se por um lado autoridades responsáveis por equacionar o problema se esquivam do debate, vemos por outro lado a presença maciça de jovens nesta Conferência.

As juventudes estão atentas à ciência das mudanças climáticas. Querem ser levadas a sério nos processos decisórios multilateriais, como constituintes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, reconhecimento que lhe é dado desde 2009. Prometem não só pressionar os delegados dos vários países a promover mudanças estruturais pelo clima, mas também colocam na mesa o primeiro documento que reúne as demandas e propostas das juventudes, o “Youth4Climate Manifesto” (aqui um resumo do Manifesto da Juventude pelo Clima, traduzido para o Português).
O documento é resultado de uma das etapas preparatórias da COP26 e traz quatro mensagens fundamentais. Primeiro, demanda a imediata Inclusão dos Jovens em todos os processos de decisão que tenham repercussões na regulação do clima, com a provisão de fundos e ambientes institucionais favoráveis para assegurar sua participação nesses processos.
Sobre a Retomada Sustentável Pós-Covid19, cinco medidas traçam o cenário desejado pelos jovens. Elas incluem a transição para energias renováveis até 2030, com ampla criação de empregos verdes para não deixar ninguém pra trás. Privilegiam soluções baseadas na natureza para proteger, manejar e restaurar ecossistemas ao mesmo tempo que respeita os conhecimentos e direitos de populações locais e indígenas. Os jovens querem ver implementados mecanismos financeiros que permitam a países empobrecidos fazer a transição para uma economia de baixo carbono. E, pedem atenção especial à responsabilidade do turismo nas emissões de gases de efeito estufa, lembrando que há localidades economicamente dependentes do turismo, que ficarão sem perspectiva diante da crise climática.
Os jovens reiteram a importância do Engajamento de Atores Não-Estatais na descarbonização da economia. Reivindicam a total eliminação da indústria de combustíveis fósseis até 2030 e propõem a rejeição a financiamentos de empresas do setor por órgãos da ONU, entidades da moda, esporte, arte, agricultura e empreendedorismo.
O Manifesto ainda pede que os tomadores de decisão invistam em comunicação e educação para uma Sociedade Consciente dos Desafios Climáticos e que se comprometam a trabalhar com os jovens e as comunidades porque eles têm habilidades para difundir conhecimentos e mobilizar pessoas.

A construção do documento começou em 2019 e, durante a pandemia, se deu por reuniões remotas com jovens de todo o mundo. A versão divulgada em fim de outubro foi consolidada por 400 lideranças jovens de 186 países, numa reunião organizada pelo governo italiano em Milão, em setembro último. Paloma Costa (@pcopaloma), Eric Marky (@ericmarky) e Eduarda Zoghbi (@duda_zoghbi) representaram as juventudes brasileiras na Itália.
Glasgow teve uma força jovem jamais vista em outras COPs. Dia 5 de Novembro foi dedicado às juventudes e pode-se esperar uma Greve Pelo Clima, ampliando o movimento #FridaysForFuture, iniciado pela ativista sueca Greta Thunberg. Outros movimentos e redes juvenis do Brasil marcaram presença na COP26, como o Engajamundo e o Muvuca, formulado pela rede de ativistas Nossas.
Nesta COP, vimos ampliada a potência da comunicação dos jovens, que relataram por seus próprios meios e lentes o andamento das negociações e das pressões sociais. É o propósito do Jovem Transformador Ashoka, Luan Torres (@luantorresss), estudante de Arquitetura, de São Bento do Una (PE), que em sua primeira COP nos informou regularmente sobre o que aconteceu por lá.
Segundo a Ministra da Infância e da Juventude da Escócia, Clare Haughey, seu governo investiu o equivalente a 7,3 milhões de Reais para “envolver as crianças e jovens na COP26. Isso garantiu que eles não apenas tivessem voz durante a Conferência, mas também pudessem tomar a frente do que acontecerá depois.” Que o entusiasmo escocês com as juventudes contagie a todos!