Artigo: EJA e os desafios para incluir quem teve o direito à educação negado

EJA e os desafios para incluir quem teve o direito à educação negado

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A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma das modalidades de ensino que mais sofre os impactos da pandemia. Em 2022, tivemos uma redução de mais de 187 mil alunos matriculados nesta modalidade.

Imagem dos bastidores da série De Volta às Aulas
Imagem dos bastidores da gravação da série "De Volta às Aulas". Foto: Divulgação

A EJA é destinada a pessoas que não tiveram acesso à educação formal na idade adequada. O público da EJA é extremamente diverso, formado por adultos analfabetos, jovens, imigrantes que querem aprender a língua portuguesa, idosos, populações originárias, comunidades quilombolas, populações do campo, presos e egressos do sistema prisional, entre outros. 

Com um público tão heterogêneo, os professores precisam estar cientes dos diferentes contextos sociais, culturais e econômicos dos alunos, além de usar metodologias e formas de avaliação adequadas. Por isso, a formação continuada de professores e o suporte financeiro e pedagógico são imprescindíveis para que a EJA seja ofertada com qualidade para todos e todas.

Juvenilização da EJA

Imagem dos bastidores da série De Volta às Aulas
Imagem dos bastidores da gravação da série "De Volta às Aulas". Foto: Divulgação

Além desses públicos, o último Censo Escolar mostrou que o perfil dos(as) estudantes de EJA também vem mudando a cada etapa. Nos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo, a idade média dos estudantes é de 46 anos. Já nos anos finais e no ensino médio, a idade média é de 24 e 25 anos. O que indica que os estudantes que estão indo para EJA nos anos finais do E.F. e no ensino médio provêm do ensino regular.

Saiba mais sobre os dados do Censo Escolar 2022

Wisley João Pereira, Gerente Executivo de Educação do SESI, aponta algumas causas dessa "juvenilização da EJA”: “É uma consequência de não termos um ensino médio atrativo que converse com as juventudes. Muitos alunos vão para EJA para se formar mais rápido e conseguir uma oportunidade de emprego.”

Para reverter esse cenário, Wisley propõe alguns caminhos: “É preciso criar programas de primeiro emprego, fortalecer a lei de aprendizagem e investir em estágios supervisionados. Precisamos criar mecanismos voltados para uma política de juventudes, que dê conta e entenda os seus anseios e necessidades.”, ressalta o gerente do SESI.

Reconhecimento de saberes

Imagem dos bastidores da série De Volta às Aulas
Imagem dos bastidores da gravação da série "De Volta às Aulas". Foto: Divulgação

Ao contrário de todas as outras modalidades de ensino, a EJA teve uma queda de alunos e a taxa de matrículas não retomou aos patamares de antes da pandemia.

Wisley Pereira acredita que para motivar os alunos no processo de aprendizagem é fundamental reconhecer seus saberes prévios.

Aspas

É preciso acolher, entender o projeto da vida de cada estudante e fazer uma avaliação para saber seu nível de aprendizagem. E assim montar um plano de aprendizagem alinhado com o projeto de vida e alinhado ao contexto e a vivência de cada aluno(a).

Wisley Pereira

Aspas

Reconhecer saberes dos(as) alunos(as) é valorizar as experiências e conhecimentos adquiridos em diferentes contextos seja no trabalho, na família ou em outras atividades do dia a dia. Além disso, esses saberes podem ser incorporados ao processo de aprendizagem formal, contribuindo para o engajamento dos(as) estudantes. 

Uma segunda chance

Existem vários motivos que levam uma pessoa a interromper os estudos: complementar - ou prover - a renda da família, gravidez na adolescência, violência doméstica, problemas de saúde ou diversos outros aspectos que a colocam em uma situação de vulnerabilidade social. 

Vale lembrar que educação é um direito. Essas pessoas que não concluíram a educação básica tiveram seu direito negado. 

Sendo assim, o que pode ser feito para evitar que a trajetória escolar do estudante seja interrompida novamente? Wisley Pereira aponta alguns direcionamentos:

 “O Conselho Nacional de Educação (CNE) já tem feito um debate fundamental no país sobre as diretrizes nacionais para reconhecimentos dos saberes, certificação de habilidades e competências de âmbito nacional para jovens e adultos. Em segundo lugar, é preciso ter uma política nacional de material didático específico para um programa de jovens e adultos, coordenado pelo Ministério da Educação. Em terceiro lugar, temos que investir na formação continuada de professores da EJA. E, por fim, ter uma qualificação profissional na EJA voltada para esse jovem ou adulto. Uma formação técnica e profissional que garanta uma certificação dupla para o(a) estudante.”

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