O ensino híbrido em três tempos
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Antes do início da pandemia de Covid-19, o ensino híbrido - que mescla ensino remoto e presencial e/ou aulas assíncronas com síncronas - era visto com resistência. Com o fechamento das escolas, o ensino remoto tornou-se uma necessidade. Agora, com a reabertura gradual das escolas, a discussão sobre essa metodologia de ensino voltou. O desafio é evitar as resistências do passado, se apropriar das boas práticas realizadas durante a pandemia e planejar para que essas metodologias atenuem os impactos no aprendizado feitos pela pandemia.
De acordo com o pesquisador Ricardo Paes e Barros, que elaborou um estudo a pedido do Instituto Unibanco e do Insper, o ensino híbrido e o melhor engajamento dos alunos podem evitar de 35% a 40% das perdas causadas na aprendizagem no último um ano e meio. No Rio de Janeiro, o secretário de Educação, Renan Ferreirinha, afirma que o ensino presencial é essencial, mas que atividades remotas propiciam um leque maior de possibilidades aos alunos.
- A resistência que existia antes com o ensino híbrido foi vencida. Isso não quer dizer que a solução está somente no remoto ou que podemos substituir o presencial. Pelo contrário, o vínculo do professor com o aluno é fundamental. Mas, tivemos excelentes experiências com o uso do nosso aplicativo de forma remota e isso é fundamental para os novos tempos - afirma o secretário.
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Mais um desafio é compreender as necessidades de cada segmento e pensar como o ensino híbrido pode - ou não - ajudar no ensino infantil, fundamental e médio. É natural que a infância tenha menor autonomia do que estudantes na última fase do ensino básico e, logo, deve-se dosar os tipos de atividade. Porém, não se pode menosprezar a possibilidade.
Um estudo recente da Fundação Cecília Souto Vidigal comparou dois grupos no aprendizado em matemática e foi possível perceber que aproximadamente 60% das crianças, em 2019, foram capazes de identificar números de dois dígitos, de fazer soma e subtração de pequenas quantidades com suporte de figuras e contas formais simples. Já em 2020, apenas 50% das crianças acertaram esses itens. O documento indica que o ensino híbrido pode ser um eficaz complemento para as práticas tradicionais da sala de aula. Segundo o levantamento, alunos do segundo ano da pré-escola em 2020 aprenderam 66% em linguagem e 64% em matemática se comparado com o aprendizado das crianças em 2019.
Porém, o mesmo estudo mostra que 65% das crianças ficaram 4h ou mais em frente a telas durante a pandemia, tempo que vai além do considerado saudável para essa faixa de idade e dificulta o desenvolvimento de ações motoras. Por isso, a gradação ao longo dos anos é importante, mas também a adaptação de acordo com o segmento.
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- É importante adaptar a metodologia de acordo com o universo do estudante. Caso seja possível, um bom exemplo é explorar o máximo das relações sociais no presencial e utilizar metodologias envolvendo games no remoto, pois isso desperta o melhor de cada cenário e está inserido dentro do que se espera de uma escola e do próprio universo do aluno - afirma Carlos Nogueira, especialista em ensino híbrido pela UFRJ.
A pandemia mostrou que não existe receita para um ensino híbrido a ser seguido, mas também demonstrou que iniciativas podem ser feitas, se mostrarem bem-sucedidas e com potencial de serem replicadas. Atentar para as práticas de professores que extrapolaram os muros das escolas e deram certo é uma necessidade para atenuar os impactos na aprendizagem da geração que viveu o ensino básico durante a pandemia. Buscar soluções é negar que consideramos essa geração como uma perdida e o ensino híbrido, sem perder a relação presencial de professor e aluno, deve ser considerado como uma medida a ser adotada.