Os 7 erros do Homeschooling
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Homeschooling
Não existe resposta fácil para problema difícil. E se todo brasileiro é um pouco técnico de futebol, não é difícil imaginar que também nos sentimos um bocado "diretores de escola" querendo dizer qual a melhor solução para os diversos problemas e desafios do ensino.
Evasão escolar, déficit de aprendizado após a pandemia, a aplicação do novo Fundeb, a reformulação do Enem e outros desafios demandam debates profundos, análise de dados e visão de especialistas, mas, nas últimas semanas, um grupo começou a responder todas essas demandas com uma única solução - simples e equivocada - o ensino doméstico. A modalidade avança no Congresso Nacional, e corre risco de ser aprovada. Existe mais de uma dezena de erros sobre o tema, mas destacamos 7:
- Educação é para profissionais - Cada fase da formação possui especificações que demanda formação de especialistas. O profissional que alfabetiza teve um preparo para aquela função, enquanto o professor especialista de determinada disciplina do Ensino Médio possui um saber e didática totalmente diferenciados. A escola é um mosaico desses profissionais e a experiência do ensino doméstico é precária, já que não há alguém que consiga abarcar todas essas características.
- É com o outro que a gente aprende - Do zero aos cinco anos, a criança tem a maior volatilidade para o aprendizado. Ela continua forte nos anos seguintes, mas com menor intensidade. Isso quer dizer que quanto mais interações, mais aprendizado. O colégio é o espaço em que se aprende para além do conteúdo lecionado, mas também com a socialização entre os alunos e outros educadores.
- O currículo não é perfeito, mas é o melhor que temos - Quem acompanhou o debate da BNCC sabe o quanto a discussão sobre currículo é importante. Não há consenso entre especialistas sobre o melhor modelo para as escolas, mas é exatamente nessas conversas entre quem entende que temos a construção do que é ensinado aos alunos. Simplificar esses debates é oferecer uma parca solução.
- As desigualdades sociais se tornam evidentes - Um dos principais fatores para um bom rendimento escolar é o capital cultural das famílias. Estudos de microdados de avaliações externas de desempenho já apontam esse fator e ele é primordial para entender como a desigualdade pode se ampliar com o ensino doméstico. A escola atenua essa desigualdade, que pode crescer se a mediação dos estudos passar a ser o próprio capital cultural das famílias.
- Temas sensíveis perpassam a escola - E muitas vezes são silenciados em casa. É o caso, por exemplo, de subnotificações de denúncias de violência contra crianças e adolescentes com o fechamento de escolas durante a pandemia. Entre janeiro e abril de 2022, lembrou Priscila Cruz, do Todos pela Educação com dados do Sou da Paz, foram 4.486 casos denunciados, o que significa mais que o dobro do mesmo período de 2020. As escolas são espaços onde essas denúncias podem ser encaminhadas com segurança e acolhimento.
- Discordâncias são importantes - Em uma turma de 30 alunos, temos 30 valores, inclusive familiares, diferentes. Conviver com a diferença, promover reflexões através das vivências e promover a alteridade é fundamental para a preparação para a vida social. Limitar isso ao ambiente familiar é desprover o jovem e a criança dessa habilidade.
- Vida acadêmica fica mais distante - Segundo estudo publicado na Universidade de Harvard, com amostra nacional de 3 mil estudantes nos Estados Unidos, os jovens que viveram o homeschooling tiveram menos chance de entrar nas universidades do que aqueles que tiveram o ensino regular em escola.
Não há defesa pedagógica para o homeschooling, salvo questões pontuais como episódios envolvendo saúde. Mas é interessante como o projeto avança mesmo que se saibam os sete, dez, vinte erros dessa modalidade.