Os alunos TikTok
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Quem anda pelos pátios escolares na hora do recreio já deve ter encontrado alunos em duplas ou trios, de frente para um celular e fazendo dancinhas coreografadas que, posteriormente, serão postadas no TikTok ou no Instagram. É uma febre que tomou conta das escolas, mas que representa muito mais os alunos do que o momento de lazer: há uma geração de alunos cuja a atenção e concentração diminui drasticamente e quase chega ao limite de minutos de um vídeo dessas plataformas. E isso virou um desafio para os professores em sala de aula.
Um estudo da UFRJ, antes da pandemia, mostrou que a atenção dos alunos durante uma aula expositiva tradicional, ou seja, com um professor explicando o conteúdo ao longo de um período de 40 minutos, tem total concentração de todos os alunos até os primeiros oito minutos. Depois desse tempo, percentuais cada vez maiores de estudantes passam a dispersar a concentração deixando de aprender o que está sendo ensinado. A conclusão é que deve-se modificar a estrutura da aula a cada oito minutos para resgatar ou manter o foco do aluno na aula.
Não é uma tarefa fácil. Se pensarmos em um professor que dá seis tempos de aula por dia e durante toda semana - realidade que para muitos é mais intensa do que esse exemplo - teremos 150 miniaulas que terão que ser preparadas, executadas e avaliadas.
Se o desafio já era grande antes da pandemia, depois do período emergencial de aulas remotas, a situação piorou. Ainda não há muitos estudos abordando o tema, mas conversas com professores, diretores e até com os próprios alunos mostram que a ausência do convívio presencial fez com que os alunos criassem uma dificuldade em compreender o uso educacional das tecnologias com o de lazer e, com isso, a dispersão passou a ser mais constante num simples toque no celular para checar conversas, ver resultados de jogos e engajamento de fotos e vídeos publicados.
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Em depoimentos, professores relatam que a atenção de alguns alunos na aula não dura nem o tempo de um vídeo do TikTok e as estratégias para envolver esse aluno são cada vez mais plurais, mas com resultados que geram frustrações muitas vezes.
O cenário piora quando se pensa que nesses últimos dois anos também ocorreu uma queda da aprendizagem desses estudantes e que isso demanda uma atuação mais efetiva no ensino para que se possa garantir a formação necessária para cada uma desses alunos ao fim dos seus segmentos.
Depois do desafio de busca-ativa dos jovens que abandonaram a sala de aula, soma-se uma nova demanda de se pensar como formar uma cultura escolar perante um contexto em que a atenção dos jovens ficou mais difusa, o uso de tecnologias na sala de aula já se tornou uma realidade e os professores precisam atender às demandas pedagógicas, sociais e emocionais dessa nova geração.