Notícia: Festival LED - Luz na Educação 2023: saiba como foi a 2ª edição do evento

Festival LED - Luz na Educação 2023: saiba como foi a 2ª edição do evento

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A 2ª edição do Festival LED – Luz na Educação aconteceu nos dias 16 e 17 de junho, em espaços e palcos de duas ferramentas culturais importantes da cidade do Rio do Janeiro: o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio (MAR).

Com inscrições gratuitas, para participação in loco, e transmissão simultânea pelo Globoplay, o evento teve recorde de público, que pode conferir debates, oficinas, palestras e shows sobre os desafios e as novidades da educação no país e no mundo.

Destaques do Festival LED - Luz na Educação 2023

Na abertura do Festival LED, o apresentador Luciano Huck deixou claro o intuito do evento: "Estamos aqui para debater sobre a educação do país, conhecer e divulgar boas práticas e iluminar essas iniciativas". Em seguida, introduziu o tema norteador do primeiro debate do dia: "Trajetórias ancestrais: como o passado pode guiar futuros plurais?".

Quatro pessoas estão sentadas em poltronas brancas sobre um palco de madeira. Ao fundo, uma projeção em tons de azul. Em primeiro plano, as costas da plateia que os assiste.
Da esquerda para a direita: Daniel Munduruku, Ana Maria Gonçalves, Lázaro Ramos e Luciano Huck, durante o debate "Trajetórias ancestrais: como o passado pode guiar futuros plurais?".

Com participação de Daniel Munduruku (escritor, professor, ator e ativista indígena), Ana Maria Gonçalves (escritora) e Lázaro Ramos (ator, diretor e escritor), o que se viu foi uma pequena síntese sobre passado, presente e o que poderá vir a ser o futuro do país, sob uma ótica da nossa própria ancestralidade brasileira.

Ana Maria Gonçalves, autora do romance "Um defeito de cor", obra literária que é uma das referências para discussões sobre o racismo no Brasil, destacou a importância da criação de conexões na busca de um entendimento coletivo sobre uma sociedade que respeite sua própria história: "Nosso papel é o de ponte. O que veio antes de mim, o que passa por mim e om que seguirá além de mim - tudo isso, adaptado ao momento atual, mas apontando uma seta para o futuro".

A presença de pessoas negras e indígenas em todos os espaços da sociedade foi ponto destacado por Lázaro Ramos e Daniel Munduruku. Para Lázaro, a conquista de espaços pela população negra também precisa se dar pelas teses nas universidades e pelas políticas públicas. Daniel ressaltou a necessária conexão que a humanidade precisa ter com o planeta e tudo que nele habita: "O Brasil precisa construir uma pedagogia do pertencimento, que seja baseada em suas próprias origens".

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Ancestralidade é pertencimento. Somos filhos da terra, ou não somos nada.

Daniel Munduruku

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No debate "Educação no Brasil: um desafio coletivo", a atriz e apresentadora Regina Casé perguntou aos participantes sobre os principais desafios da educação hoje e possíveis caminhos pra que uma realidade melhor possa ser construída.

Quatro pessoas estão sentadas em poltronas brancas sobre um palco com piso de madeira.
Da esquerda para a direita: André Lázaro, Lilia Schwarcz, Elisa Lucinda e Regina Casé.

André Lázaro, diretor de políticas públicas da Fundação Santillana, destacou que a busca por uma sociedade menos desigual deve se dar a partir da diversidade que existe nas próprias salas de aula. Elisa Lucinda, artista, jornalista e professora, complementou: "É hora de reconstruir o Brasil, com base em sua própria história". Para Lilia Schwarcz, antropóloga, historiadora e professora, o papel da escola como espaço que garante o presente e trabalha o futuro precisa, sempre, ser garantido: "Precisamos ter, nas escolas, uma política da lembrança".

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A escola é um potente centro cultural.

Elisa Lucinda

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Uma educação crítica e antirracista

Um momento bastante esperado do 2º Festival LED - Luz na Educação foi o da palestra "Educação crítica: uma janela para novas possibilidades".

Patricia Hill Collins, importante e influente socióloga em estudos sobre o racismo, compartilhou um pouco de seu trabalho, que consistente em uma abordagem freireana a respeito da educação crítica, fazendo recortes relacionados aos três momentos de sua trajetória na educação: como professora do Ensino Fundamental, na universidade e já dedicada à pesquisa.

Uma mulher fala ao microfone, de pé sobre um palco com piso de madeira, em um auditório.
Patricia Hill Collins, durante palestra "Educação crítica: uma janela para novas possibilidades". (Foto: Raiane Cardoso)

Ao ser perguntada sobre a questão das cotas raciais no Brasil, Patricia respondeu contextualizando: "Eu acho que é muito importante que o Brasil perceba que educar todas as suas crianças é fundamental para o país. E esse é um país que tem uma população jovem grande; e uma população jovem e negra grande".

Entre os diversos debates promovidos pela 2ª edição do Festival LED, um dos destaques foi a mesa “Cotas e a Luta pela Reparação Histórica: Passado, Presente e Futuro”, que ocorreu na sexta-feira (16). Com mediação de Flávia Oliveira, o debate contou com a participação de Átila Roque, Daniel Munduruku, João Luiz Pedrosa e Katiuscia Ribeiro.

O apresentador, professor e influencer, João Luiz Pedrosa, que foi contemplado pelas políticas afirmativas em sua formação universitária, afirmou: “Quando eu enxergo a política de cotas e todas as políticas afirmativas, eu enxergo enquanto uma questão de privilégios que estão sendo reorganizados; e eu não sei se a maior parte da sociedade está muito preparada para isso”.

Ele prosseguiu: “Uma das coisas que a gente mais escuta é: ‘A cota é para pegar a vaga de outra pessoa’. Mas eu fico pensando nisso de ‘pegar a vaga’, ‘tomar a vaga’, isso significa o quê? Que essa vaga tem dono. E quem é esse dono? Na maioria das vezes, são pessoas brancas que puderem ocupar e ter acesso a oportunidades”, disse.

Seis pessoas negras estão de pé, lado a lado, sorrindo.
João Luiz Pedrosa, de casaco e calça jeans, abraçado a parte da equipe de jornalistas da Fundação Roberto Marinho (esq. para a dir.): Marcos Furtado, Louise Freire, Lucas Bulhões, Pedro Lima e Rafael Costa.

O escritor, professor e ativista Daniel Munduruku também trouxe sua visão para o debate. “O sacrifício sempre tem sido dos povos indígenas. A gente tem que aprender a língua, e abrir mão das nossas. A gente tem que aprender a nos relacionarmos com a sociedade brasileira, fazemos todo o esforço de conhecer o cenário brasileiro, mas a sociedade brasileira não faz esforço nenhum para conhecer a nossa gente”.

Ao final, Flávia Oliveira e os convidados concluíram a conversa pedindo por mais reconhecimento de todos os saberes, oportunidades de inclusão em outras frentes – para além das universidades.

Oficinas LED Cria

Em salas no Museu de Arte do Rio (MAR), aconteceram as disputadas Oficinas LED Cria - parceria do Movimento LED com o Futura

Com mediação e orientação de Pâmela Carvalho (educadora, historiadora, gestora cultural e pesquisadora ativista das relações raciais e de gênero e dos direitos de populações de favelas) e Rodrigo Maré (músico, ator e arteeducador), a oficina "Vou aprender a ler pra ensinar meus camaradas: práticas de antirracismo na educação" aconteceu nos dois dias do Festival LED, sempre com lotação esgotada.

Uma mulher negra fala ao microfone, de pé, enquanto parte das pessoas que estão sentadas na sala a assistem.
Pâmela Carvalho, durante fala na oficina LED Cria "Vou aprender a ler pra ensinar meus camaradas: práticas de antirracismo na educação".

O público, bastante diverso, participativo e empolgado, falou sobre suas experiências profissionais e pessoais, e o impacto de estarmos inseridos e inseridas em uma sociedade racista. O programa A cor da cultura, de valorização da cultura negra e da cultura indígena, foi citado por alguns dos participantes também.

Saiba mais sobre A Cor da Cultura

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O primeiro passo para que a gente construa uma sociedade antirracista é a escuta.

Pâmela Carvalho

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Com mediação de Cinthia Sarinho (educadora) e Luana Dias (facilitadora em projetos educativos), a oficina LED Cria "#PaznasEscolas" propôs debates sobre como profissionais da educação, da saúde, assistência social, além de famílias, estudantes e comunidades, podem atuar em conjunto para enfrentar a violência nas escolas.

A mensagem que ficou evidente na oficina foi de que preconceitos, desigualdades sociais e, mais precisamente, racismo precisam estar contemplados nos conteúdos trabalhados nas escolas - e isso inclui os processos de formação de professores.

Mesmo com questões previstas em lei, professoras e estudantes presentes na oficina observaram que faltam ações e proposições nos próprios planejamentos pedagógicos.

Ao final, foi exibido um episódio da série Desafio nas escolas, com apresentação de Fábio Porchat.

Assista à série Desafio nas escolas

Diversas pessoas organizadas em U, em uma sala.
Oficina LED Cria "#PaznasEscolas", no Museu de Arte do Rio.

A temática da violência nas escolas deu o tom também ao debate "Como conviver e aprender com medo? Precisamos falar sobre as violências nas escolas".

Com mediação da jornalista Astrid Fontenelle, Miriam Abramovay (socióloga e especialista em violência escolar) e as colegas de Astrid no programa Saia Justa, no canal GNT - Bela Gil (chef de cozinha e apresentadora), Gabriela Prioli (advogada) e Larissa Luz (cantora) -, o debate abordou possíveis caminhos para alcançarmos um ambiente escolar mais seguro e acolhedor.

Miriam destacou a importância de conhecermos mais profundamente os diversos tipos de violência, inclusive aquelas praticadas pela própria escola. Larissa contribuiu contando um pouco de sua própria história de vida escolar: "Estudei em escolas particulares, sempre como bolsista, porque minha mãe era professora na rede privada. Eu era uma das poucas estudantes negras por lá".

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Hoje, colocamos tudo de violência na escola nesse caldeirão que é o bullying, mas é importante sabermos que muito daquilo ali é racismo mesmo.

Larissa Luz

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Quatro mulheres sentadas em poltronas brancas sobre um palco de piso de madeira.
Da esq. para a dir.: Bela Gil, Gabriela Prioli, Larissa Luz, Miriam Abramovay e Astrid Fontenelle, durante debate sobre violência nas escolas.

Formação de professores

Gabriela reforçou a importância de um processo de formação de professores que considere, especialmente, o tempo em que as escolas tiveram de ficar fechadas, por causa da pandemia de Covid-19: "Precisamos repensar a escola e a sociedade".

Bela Gil trouxe argumentos relacionados à nossa conexão com a natureza para ilustrar as dificuldades que a humanidade tem enfrentado com o desenvolvimento cada vez mais rápido das ferramentas tecnológicas e nossa reação a isso: "Não temos válvula de escape, por conta das tantas tecnologias que nos fazem ficarmos cada vez mais sedentários. E uma educação integral precisa contemplar, também, uma educação alimentar. Alimentar-se mal gera animosidade", disse Bela.

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Criança que come bem se comporta melhor do que criança que come mal.

Bela Gil

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A mesa de debate "Borogodó cultural: uma escola chamada Brasil" reuniu Heloísa Buarque de Hollanda (escritora e professora), Raphael Callou (diretor da OEI Brasil) e Russo Passapusso (cantor, compositor, pesquisador e escritor). A mediação ficou a cargo de Manoel Soares (apresentador do Encontro, da Tv Globo, e do Papo de Segunda, do GNT), que iniciou as conversas destacando a importância das coexões entre cada um dos participantes da conversa. E os convidou a compartilharem um pouco sobre sua história de aprendizados.

Heloísa reconheceu os privilégios que teve por sempre ter sido de classe média: "Foi muito confortável, sempre, mas eu destestava meu colégio. Sempre achei que cultura acontecia fora dali. Precisamos aprender a nos articular", disse Heloísa.

Para Russo, a realidade humilde no município em que nasceu o fez aprender a lidar, desde cedo, com as dificuldades: "Sempre procurei transformar dor em amor. Quando percebi que a gente tem cultura dentro da gente, entendi que nós e os outros, todos, somos cultura".

Quatro pessoas sentadas em um auditório. Ao fundo, um painel em tons de azul e lilás.
Da esq. para a dir.: Manoel Soares, Heloísa Buarque de Hollanda, Russo Passapusso e Raphael Callou, na abertura do debate "Borogodó cultural: uma escola chamada Brasil". (Foto: Hugo Rosas)

Raphael Callou contou a todas e todos sobre sua origem humilde, em Recife, mas sempre conectado ao cultural: "Mesmo morando na favela, minha mãe sempre teve uma relação profunda com a cultura". E destacou a co.liga, escola de economia criativa, que é fruto de parceria entre a OEI e o Futura, como uma importante ferramenta de inserção de jovens no mundo do trabalho.

Saiba mais sobre a co.liga

Inteligência Artificial e educação

O debate "Revolução ou 'modinha'? Como a inteligência artificial está transformando as formas de ensinar e aprender" contou com Bianca Kremer (professora, pesquisadora e ativista de Direitos Digitais), Felipe Castanhari (youtuber, designer gráfico e fundador do Canal Nostalgia), Martha Gabriel (futurista, professora e escritora) e mediação de Andréia Sadi (jornalista e apresentadora do Estúdio I, da GloboNews).

Coube a Martha Gabriel a abertura do encontro, que foi feito de forma bastante surpreendente para o público: a apresentação de Martha, com imagens e vídeo dela própria, foi toda concebida por ferramentas de inteligência artificial.

Um homem, com bigode e cavanhaque, sorri. Ao fundo, um painel em tons de azul com o texto "Movimento LED - Luz na Educação".
Felipe Castanhari, em visita ao estúdio de jornalismo da Fundação Roberto Marinho instalado no Museu do Amanhã, durante o Festival LED.

Apesar de as novas tecnologias sempre terem seu aspecto bastante sedutor e prático, Felipe Castanhari refletiu sobre os riscos de, em um futuro próximo, tecnologias assim acabarem se tornando ferramentas para ações mal-intencionadas.

Para Bianca Kremer, há ainda outro ponto de extrema relevância: "Como professora, preciso trabalhar questões relacionadas a exclusão, a dificuldade de acesso a todas e todos, e a práticas racistas realizadas por essas novas ferramentas".

Chat GPT e educação

Provocado pelo que foi conversado no debate, utilizei o Chat GPT, ferramenta de inteligência artificial generativa, para ver o que me traria de resposta para a seguinte pergunta:

Qual é a importância de um evento sobre educação no Brasil?

Vejamos, abaixo, o que a ferramenta respondeu (entre aspas):

"Educação é de extrema importância por várias razões. Aqui estão algumas das principais:

Troca de conhecimento: Um evento educacional reúne especialistas, educadores, pesquisadores e profissionais da área, proporcionando um ambiente propício para a troca de conhecimento. Palestras, workshops e painéis de discussão permitem que ideias e experiências sejam compartilhadas, enriquecendo a compreensão e o desenvolvimento de práticas educacionais.

Aprendizado contínuo: A educação está em constante evolução, e um evento dedicado a esse tema oferece uma oportunidade valiosa para aprender sobre as últimas tendências, métodos e descobertas na área da educação. Participar de um evento permite que os profissionais da educação se mantenham atualizados e continuem a aprimorar suas habilidades.

Networking: Eventos educacionais são excelentes oportunidades para estabelecer contatos e construir relacionamentos profissionais. Conectar-se com outros profissionais da área pode levar a colaborações, parcerias e oportunidades de desenvolvimento profissional.

Inspiração e motivação: Participar de um evento educacional pode ser inspirador e motivador. Ouvir palestrantes renomados, compartilhar experiências com outros profissionais apaixonados pela educação e ver exemplos de sucesso podem renovar o entusiasmo e a dedicação dos participantes em sua prática educacional.

Discussão de desafios e soluções: Um evento sobre educação geralmente aborda desafios e problemas enfrentados no sistema educacional."

O que acharam? ;)

Uma mulher negra sorri ao lado de um painel com o texto "Movimento LED - Luz na Educação".

A 2ª edição do Festival LED chega ao fim, mas as conexões e ideias para o futuro da educação no país seguirão ecoando nas mentes das milhares de pessoas que acompanharam presencialmente, no Museu do Amanhã e no Museu de Arte do Rio, e pela web, via Globoplay.

Até o próximo Festival LED - Luz na Educação!

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