Lançamento de pesquisa sobre racismo no Brasil tem homenagem a Léa Garcia
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Na manhã de ontem, 15/8, o auditório da Editora Globo, no centro do Rio de Janeiro, foi palco de evento promovido pelo programa A Cor da Cultura para apresentação de resultados da pesquisa Percepções sobre o racismo no Brasil.
O estudo, com foco em evidências sobre a educação, iniciativa do Peregum Instituto de Referência Negra e do Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista (SETA), contou com coleta, organização e cruzamento de dados da Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec).
Saiba mais sobre a pesquisa
Maria Corrêa e Castro, líder de projetos na Fundação Roberto Marinho, realizou a abertura do encontro, convidando Ana Paula Brandão, diretora programática na ActionAid Brasil, que coordenou o programa "A Cor da Cultura" em sua origem, pela Fundação Roberto Marinho, para a fala introdutória.
Ana Paula, após breve contexto sobre A Cor da Cultura e a pesquisa, homenageou Léa Garcia, atriz que faleceu naquela manhã. Conversamos sobre a importância e o legado da atriz com Ana Paula, assunto sobre o qual falaremos mais adiante, nesta matéria.
Após introdução de Ana Paula, Luciana Ribeiro, especialista em educação no Projeto SETA, apresentou dados importantes que a pesquisa revelou.
O racismo foi considerado por 44% das pessoas como o principal fator gerador de desigualdades no Brasil.
E essa resposta foi maioria em todos os gêneros, grupos de idades, regiões do país, grupos étnico-raciais, nas capitais e no interior, nas diferentes faixas de renda, orientações políticas e religiosas.
"Este momento é estratégico para a sociedade brasileira", disse Luciana. "Falo de estarmos presenciando a retomada do programa A Cor da Cultura e, há poucos dias, termos tido a aprovação da revisão da Lei de Cotas no Congresso Nacional", completou.
Os ajustes na Lei nº 12.711 (conhecida como "Lei de Cotas"), que constam no Projeto de Lei nº 5384/2020, preveem avaliação do programa a cada 10 anos, redução da renda familiar per capita para 1 salário mínimo e inclusão dos quilombolas entres os beneficiários.
Conheça a Lei de Cotas (nº 12.711) e o Projeto de Lei nº 5384/2020.
A pesquisa revelou ainda que 81% da população brasileira concorda, totalmente ou em parte, que o Brasil é um país racista.
E esse comportamento se manifesta de diferentes maneiras: atitudes ou práticas racistas (11%), instituições racistas (10%), instituições educacionais racistas (13%), famílias racistas (12%), dentre outras.
O debate
Com mediação de Ana Paula Brandão, o debate sobre os dados da pesquisa "Percepções sobre o racismo no Brasil" contou com Lucimar Rosa, diretora de Políticas de Educação Étnico-Racial e Educação Escolar Quilombola da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (SECADI), do Ministério da Educação (MEC), Joana Oscar, cooredenadora na Coordenadoria de Diversidade, Cultura e Extensão Curricular da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME-RJ), Rosalina Soares, assessora de pesquisa e avaliação da Fundação Roberto Marinho, e Valter Silvério, professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Lucimar enfatizou a contribuição que a pesquisa representa: "Pesquisas renovam questões que já temos abordado e apresentam novos pontos a serem observados".
O retorno da SECADI, medida adotada nos primeiros dias do atual mandato do governo federal foi também destacado por Lucimar: "Voltarmos, agora, é ainda mais especial também por contarmos com uma diretoria para assuntos quilombolas. Isso é um marco dessa retomada", disse ela.
Todo componente curricular precisa contar com o referencial afro-brasileiro.
No âmbito dos desafios enfrentados pelo município com relação à implementação de uma política educacional antirracista, Joana Oscar reforçou a importância de haver um sistema sólido, que funcione independentemente das pessoas que o dirigirem: "Temos o desafio de formatar e consolidar programas de educações das relações étnico-raciais que não estejam centralizados na figura de uma pessoa. Tudo que for pensado precisa estar sob responsabilidade de todas e todos da secretaria".
E complementou: "Sem termos alicerces firmes, não conseguiremos fazer com que tudo isso chegue com qualidade até as escolas".
Mesmo em cidades com Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ótimo, lá estão negros e negras com menos acesso à educação.
Conectada ao ponto de vista de Joana, Rosalina Soares destacou a pouca relevância que a educação das relações étnico-raciais tem na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), seja no aspecto racial, seja no que Ana Paula também comentou: a questão de gênero.
Valter Silvério reforçou a importância da realização da pesquisa, principalmente após um último censo deficiente em retratar a realidade das popúlações excluídas do país. E foi além: "Estudar a nossa legislação permite enxergar o quão direcionado é o sistema legal brasileiro para a exclusão de negros e indígenas".
Esta pesquisa incide, majoritariamente, no campo educacional. Acho que vai ser bastante consumida.
A Cor da Cultura, Léa Garcia e a pesquisa "Percepções sobre o racismo no Brasil"
Para Ana Paula Brandão, o programa A Cor da Cultura, por meio da divulgação da pesquisa "Percepções sobre o racismo no Brasil", reforça seu papel de promover o debate sobre a educação das relações étnico-raciais no Brasil:
"A Lei 10.639/03 faz 20 anos, agora, em 2023. Tivemos, sem dúvidas, muitos avanços no campo da educação para as relações étnico-raciais (ERER), mas muito ainda precisa ser feito, como podemos ver nos dados da pesquisa "Percepções sobre o racismo no Brasil". Ana continua: "Brasileiros entendem que o ensino sobre racismo, cultura e histórias africana e indígena é importante. E a retomada do programa A Cor da Cultura, que até os dias de hoje é considerado um dos principais projetos de formação dos professores, é estratégica para o campo".
Conheça a Lei 10.639/03.
Maria Corrêa e Castro também compartilhou seu ponto de vista sobre A Cor da Cultura:
"Entendo que o único caminho para termos equidade racial e combatermos o racismo é através da educação", disse Maria. Para ela, o papel da escola na construção da noção de cidadania e respeito da sociedade é indiscutível:
"Desde muito cedo, na educação infantil, a escola é responsável por formar pessoas mais conhecedoras da historia e da formação da sociedade Brasileira. A colonização do Brasil foi um desserviço as populações originárias dessa terra e o trafico atlântico foi uma violência que se perpetua até hoje através do racismo que contamina as estruturas da sociedade brasileira. Por esse motivo, aprender a história a partir de uma perspectiva decolonial, entender que direitos são iguais para todos e que é conhecimento importante e que precisa ser aprendido na escola", reforçou.
A Cor da Cultura se propóe a ser uma ferramenta para a difusão dessa educação das relações étnico-raciais; de uma educação que preza pela equidade.
Homenagem a Léa Garcia
Léa trabalhou em teatro, cinema e TV, meio pelo qual consolidou sua carreira junto ao "grande público", por conta de papéis marcantes como nas novelas Escrava Isaura e Selva de Pedra.
No Futura, a atriz participou da série Heróis de Todo Mundo, que apresenta pessoas que fizeram a diferença na história do Brasil, mas que ninguém sabe que são negras.
Para Ana Paula Brandão, a importância de Léa Garcia é enorme:
"Léa foi uma das atrizes que generosamente emprestaram seu talento para a série Heróis de Todo Mundo, representando a Ana das Carrancas, personagem incrível da nossa história. Léa é uma referência para a cultura brasileira, tanto pelo sua capacidade de atuação, como também pela sua militância política no campo da cultura. Uma enorme perda."
Em memória e homenagem a Léa Garcia, assista ao episódio a que Ana Paula se refere clicando no link abaixo. E que venham as próximas ações do programa A Cor da Cultura.
Heróis de Todo Mundo - Ana das Carrancas, com Léa Garcia
Sobre a pesquisa "Percepções sobre o racismo no Brasil"
Os dados da pesquisa são fruto de uma amostra de 2.000 pessoas, proporcional aos perfis representativos da população brasileira, com 16 ou mais anos de idade.
O método adotado envolveu perguntas feitas em entrevistas pessoais, em 127 municípios brasileiros, de 14 a 18 de abril de 2023. As profissionais da empresa de consultoria abordaram as pessoas em suas casas, em dias úteis e nos finais de semana, considerando os períodos diurno e noturno.
Sobre a Fundação Roberto Marinho
A Fundação Roberto Marinho inova, há mais de 40 anos, em soluções de educação para não deixar ninguém para trás. Promove, em todas as suas iniciativas, uma cultura de educação de forma encantadora, inclusiva e, sobretudo, emancipatória, em permanente diálogo com a sociedade. Desenvolve projetos voltados para a escolaridade básica e para a solução de problemas educacionais que impactam nas avaliações nacionais, como distorção idade-série, evasão escolar e defasagem na aprendizagem.
A Fundação realiza, de forma sistemática, pesquisas que revelam os cenários das juventudes brasileiras. A partir desses dados, políticas públicas podem ser criadas nos mais diversos setores, em especial, na educação. Incentivar a inclusão produtiva de jovens no mundo do trabalho também está entre as suas prioridades, assim como a valorização da diversidade e da equidade. Com o Canal Futura fomenta, em todo o país, uma agenda de comunicação e de mobilização social, com ações e produções audiovisuais que chegam ao chão da escola, a educadores, aos jovens e suas famílias, que se apropriam e utilizam seus conteúdos educacionais.