Sisu 2024: Mudanças excluem possibilidades de trocar de curso no segundo semestre
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Processo seletivo terá apenas uma edição por ano, com lista de espera anual e implementação da nova Lei de Cotas no sistema de classificação
Pela primeira vez, o programa do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) terá apenas uma edição ao ano. A medida, anunciada pelo Ministério da Educação (MEC) em 29 de dezembro do ano passado, exclui o Sisu 2, que ocorria no segundo semestre. Outra mudança envolve as novas regras de classificação. De acordo com o Edital n. 22/2023, a lista de espera será anual. Isso significa que, se o candidato não for selecionado na chamada regular do programa, ele poderá optar pela lista de espera, que funcionará até o número de vagas ser preenchido. Caso não seja chamado na lista de espera, ele só poderá tentar novamente no Sisu do próximo ano, fazendo um novo Enem. Sendo assim, a classificação do candidato que definirá o início do seu curso, no primeiro ou segundo semestre.
Como essas mudanças podem impactar os candidatos? Não haverá mais, por exemplo, a possibilidade de trocar a opção de curso, como fez a estudante Camile Vieira, de 19 anos. No início de 2023, ela percebeu que não se identificava mais com a primeira escolha no Sisu: “Se eu não tivesse a oportunidade de trocar de opção de curso, com o Sisu 2, estaria infeliz na minha graduação até hoje ou então teria abandonado e perdido um ano de estudos”, conta a estudante. A jovem, que é moradora de São Gonçalo, município do Rio de Janeiro, trocou o curso de Letras pelo Serviço Social e hoje está matriculada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela ainda conta que a turma é formada por estudantes que entraram no segundo semestre do ano, muitos pelos mesmos motivos que os dela.
Em uma pesquisa que avalia os fatores de evasão nas universidades, a Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Melina Klitzke identificou que os estudantes que ingressaram em 2014 na UFRJ, via Sisu, para cursar sua primeira opção de curso, tinham 5% de probabilidade de evadir no primeiro semestre da graduação. Já os alunos que entraram para a segunda opção de curso tinham 11% de probabilidade de evadir no primeiro semestre. Ou seja, os alunos que não cursaram a graduação de preferência tiveram o dobro da probabilidade de abandonar a graduação. Para a pesquisadora, a prioridade na escolha da graduação está associada à evasão precoce nos cursos universitários: “Uma vez que o Sisu induz a uma escolha adaptativa do aluno a partir de sua nota, e não à escolha antecipada, como ocorria com o vestibular. A alta evasão no início do curso sinaliza que as escolhas dos estudantes são feitas com base em duas referências: entrar ou não na universidade, e só posteriormente onde entrar”, explica.
No entanto, na visão da Rosana Hering, professora e Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino Superior da UFRJ, o abandono do processo seletivo no segundo semestre não trará impactos relevantes nas taxas de evasão no Ensino Superior: “A segunda opção de curso não diminuiu as taxas de evasão escolar, na verdade a evasão nos últimos anos se manteve grande mesmo quando havia a opção de trocar de curso no meio do ano”. Ela explica, ainda, que a evasão é um fenômeno com muitas dimensões e que nem mesmo o fato de o estudante estar no curso em que ele gostaria garante que ele vá permanecer na universidade.
Em resposta ao Canal Futura, o Ministério da Educação explica que a realização de um Sisu anual tem como objetivo otimizar o preenchimento das vagas, diminuir o número de vagas ociosas e ampliar o acesso ao ensino superior no país. Além disso, o MEC comenta que o novo sistema gera economia e facilita o planejamento das instituições de ensino superior, além de simplificar o acesso para os candidatos.
Mudanças no Sisu também abrangem candidatos cotistas
A implementação da nova Lei de Cotas (Nº 14.723) mudará o sistema de classificação para os cotistas. Agora, o vestibulando cotista concorre, primeiramente, na ampla concorrência e, depois, disputa as vagas reservadas para as ações afirmativas. O esquema pode parecer confuso, mas o professor de pré-vestibular Vinicius Oliveira explica: “Vamos supor que um aluno queria medicina e ele tem direito a cota racial, a nota para a cota racial é, por exemplo, 750 pontos e a nota de ampla concorrência é 830. Então, imaginando que o aluno cotista faça uma nota de 840 pontos, ele tem condições de concorrer com os alunos na ampla concorrência. Vamos pensar agora que o aluno tenha tirado 750. Ele não vai conseguir vaga na ampla concorrência, mas conseguiria nas vagas reservadas para a cota racial”.
Para o educador, o novo formato não traz mais oportunidades para os cotistas, ele proporciona igualdade na distribuição das notas. Na visão da União Nacional dos Estudantes, a inclusão da nova Lei de Cotas no Sisu é positiva. “Existe um aumento nas chances de ingresso dos estudantes de escola pública nas universidades e institutos federais”, comenta Manuella Mirella, presidenta da UNE.
Sobre o Sisu 2024
As inscrições para o Sisu 2024 vão de 22 a 25 de janeiro e devem ser feitas por meio do Portal Único de Acesso ao Ensino Superior. Participarão, neste ano, 127 universidades, com oferta de 264.254 vagas, para o primeiro e o segundo semestre. O resultado do processo seletivo será divulgado no dia 30 de janeiro, pelo Portal Único de Acesso. Importante destacar que o período de matrícula para os dois semestres é o mesmo. Confira o calendário divulgado pelo MEC.
- Inscrições: 22 a 25 de janeiro
- Chamada regular única: 30 de janeiro
- Período de matrícula dos selecionados: 1º a 7 de fevereiro
- Manifestação de interesse na lista de espera: 30 de janeiro a 7 de fevereiro