Artigo: Quem se preocupa com a educação empreendedora do MEI?

Quem se preocupa com a educação empreendedora do MEI?

Hoje eu vou trocar uma ideia com vocês sobre um assunto que está diretamente ligado à minha vida pessoal e profissional há anos que é o empreendedorismo, mais especificamente sobre o Microempreendedor Individual, o famoso MEI.  

A categoria MEI entrou em vigor no Brasil no ano de 2009 com a intenção de formalizar milhões de profissionais autônomos que exerciam suas atividades sem nenhum suporte jurídico ou acesso aos benefícios da Previdência Social. Essas pessoas representavam, na época, 20% da força de trabalho brasileira com cerca de 4,1 milhões de trabalhadores. E a gente até pode dizer que o resultado foi satisfatório. Isso porque, 11 anos depois, 51% das empresas abertas no Brasil pertencem à natureza Microempreendedor Individual. Ao todo, são mais de 11 milhões de brasileiros fora da informalidade. Os dados são da Receita Federal.  

Mas quer saber por que eu citei esse resultado tão satisfatório com um certo tom de desânimo? Porque muitos desses negócios infelizmente não se sustentam. Como empreendedor, eu considero o MEI uma das – ou talvez até a mais fácil alternativa para formalizar um trampo nos meios legais e sair da informalidade, tendo em vista a quantidade de pessoas em situação de vulnerabilidade que acabam empreendendo por necessidade. A formalização transforma um corre emergencial em um negócio minimamente estruturado que vai se tornar a principal fonte de renda de um indivíduo a médio prazo. No entanto, a estatística que temos é a de 3 em cada 10 MEIs que fecham as portas dentro de cinco anos de atividade. O motivo: ausência de capital de giro e insuficiência de clientes fidelizados.

Uma mulher está diante de um laptop.

Interpretando essas informações com um olhar mais crítico para a nossa sociedade que mais exclui do que inclui no que diz respeito ao acesso à educação de qualidade, a gente pode facilmente visualizar na nossa mente uma espécie de efeito dominó: a ausência de educação formal provoca o desemprego, o desemprego motiva o empreendedorismo por necessidade e a falta de instrução básica sobre temas como gestão financeira, administração de negócios, marketing e fidelização de clientes leva o MEI de volta à estaca zero com as portas do negócio fechadas. A conta não fecha.  

Para mitigar esse problema, o FA.VELA, organização social da qual sou cofundador, se dedica à execução de programas de educação e aceleração empreendedora que fortaleçam iniciativas locais de pessoas negras, periféricas, mães solo e pessoas LGBTQIA+. Nosso objetivo principal é impulsionar negócios de base favelada por meio de formações digitais gratuitas e adaptadas à realidade das pessoas e seus territórios de atuação.  

O cenário evidenciado pelos dados que citei no início têm servido de insumo para tomada de decisões mais assertivas quanto a mudança de estratégias de jornadas formativas no nosso Fundo de Aceleração. Uma delas diz respeito à formação de novos líderes e empreendedores com visões mais críticas de futuro.

É urgente a virada de chave para compreender que o futuro é amanhã. Existe uma ideia muito disseminada pelos filmes de ficção científica de um futuro altamente tecnológico, robotizado e carregado de invenções revolucionárias e conquistas espaciais. Chega até a ser motivo de piada na internet a expectativa das gerações passadas de chegarmos aos anos 2020 com carros voadores pra lá e pra cá pelas ruas das cidades. Ainda não temos nada disso da maneira que imaginaram, mas o futuro está aqui. E vai estar aqui de novo amanhã para essa galera da favela que precisa trabalhar – e muito – para sobreviver e fazer renda. É nessa perspectiva de futuro que nós trabalhos no FA.VELA e agora também na Futuros Inclusivos, meu outro ramo de atuação dentro da organização.

Quatro jovens debatem sobre o que veem em algumas folhas que estão sobre a mesa em que se desbruçam.

Começa agora em fevereiro o Digital Futures Lab, primeiro projeto de letramento em futuros da Futuros Inclusivos em parceria com o FA.VELA. Durante toda a jornada de formação de novos líderes futuristas vamos trabalhar 9 dimensões-chave para pensar o futuro que queremos. São elas: educação, economia, trabalho, território, diversidade, alimentação, inovação social e tecnologia, cidadania do futuro e head de futuros.

60 participantes foram selecionados entre quase 300 inscritos para somar com a gente nessa jornada imersiva de aprendizado em futuros para que possam se antecipar para crises e cenários inovadores na rotina de seus empreendimentos. O projeto é em parceria com a UK Brazil Tech Hub, iniciativa de inclusão digital do Governo do Reino Unido.  

Ah! E respondendo à pergunta do título: tem gente cuidando desses empreendedores sim.

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