Dorothy Vaughan – Estrelas além do tempo
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Uma estrela além do seu tempo
Uma estrela além do seu tempo. Hoje, compartilho a história de Dorothy Vaughan: Matemática, cientista, professora e primeira mulher negra a ser promovida como chefe de departamento na NASA.
Conhecida principalmente por integrar a equipe de mulheres negras da agência estadunidense responsável por levar o primeiro homem à lua, sua história retratada em livros, em seu filme biográfico e em demais artigos me chamou atenção por espelhar a atualidade das cientistas negras que ocupam posições de destaque em grandes laboratórios e universidades.
O filme ‘’Estrelas além do tempo’’ retrata sua força em cuidar de sua família ao mesmo tempo que gerenciava seu trabalho científico em uma realidade segregacionista estadunidense. Isso me impactou em diversas situações abordadas. Por exemplo: quando Dorothy é expulsa de uma livraria que apenas pessoas brancas poderiam frequentar. Sabendo que a educação é um expansor para oportunidades, é inquietante ver como pessoas negras eram impedidas de todo esse acesso. Portanto, Dorothy Vaughan é uma das personagens negras da história que combateram esse sistema e permitiu, em um relato pessoal, que eu pudesse ser uma cientista negra nos dias de hoje.
O início da vida de Dorothy Vaughan
Em 20 de setembro de 1910, na cidade de Kansas City, localizada no Missouri, nasceu Dorothy Jean Johnson. Aos 7 anos, a filha de Annie e Leonard Johnson mudaria-se com a família para Morgantown, West Virginia, onde se formaria na Beechurst High School, em 1925, como oradora da turma.
Mais tarde, ela receberia uma bolsa de estudos para participar da Universidade Wilberforce, em Ohio. Em 1929, formou-se com um B.A em matemática e, embora encorajada por professores a fazer pós-graduação na Howard University, Vaughan priorizaria sua carreira como professora de matemática na Robert Russa Moton High School, para ajudar a família durante a grande depressão.
Em 1932, casou-se com Howard Vaughan. Após a união, o casal mudou-se para Newport News, Virgínia, onde tiveram 6 filhos: Ann, Maida, Leonard, Kenneth, Michael e Donald. Durante os seus 14 anos de docência, as escolas públicas e todo o estado da Virgínia permaneciam subjugados às leis de Jim Crow, que estabeleciam a segregação racial. Contudo, sua dedicação à igreja e a sua família seriam fatores que impulsionariam sua busca pela mudança – e assim começou a trabalhar para a NASA.
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Uma trajetória de cálculos complexos
Em 1935, o Comitê Consultivo Nacional para a Aeronáutica (NACA) havia estabelecido uma seção de mulheres matemáticas, que realizavam cálculos complexos. Em 1941, o presidente Franklin D. Roosevelt emitiu a Ordem Executiva 8802 que acabaria com a segregação na indústria de defesa. A Ordem Executiva 9346 viria para acabar com a discriminação racial na contratação e na promoção entre agências federais e empreiteiros de defesa.
Isso ajudou a garantir que o esforço de guerra atraísse toda a sociedade americana após a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em 1942. Com a promulgação das duas ordens executivas, e com muitos homens sendo levados ao serviço, agências federais como o NACA acabaram por expandir sua contratação e aumentou o recrutamento de mulheres, incluindo mulheres negras para apoiar a produção de aviões de guerra.
Dois anos após a emissão das Ordens Executivas 8802 e 9346, o Langley Memorial Aeronautical Laboratory (Langley Research Center), uma instalação do NACA, também começou a contratar mais mulheres negras para atender ao aumento drástico na demanda por processamento de dados de pesquisa aeronáutica.
Sabendo desta trajetória, assume-se que Dorothy Vaughan teria provavelmente alcançado elevadas posições na NASA em menor tempo caso fosse uma mulher branca.
Essa discrepância é abordada pela personagem da cientista no filme: em uma das cenas, é possível perceber sua urgência em ensinar para as outras mulheres negras uma nova linguagem de programação, para que elas se mantivessem úteis para manter seus empregos. Linguagem, inclusive, que ela buscou aprender sozinha, demonstrando aptidão no entendimento de como mexer no grande computador de cartões perfurados da NASA, na época, criado pela IBM, antes mesmo dos técnicos – homens e brancos. Vaughan demonstrava interesse em subir para outro cargo de gestão na NASA, porém, apesar de sua importante contribuição e habilidades lógicas, nunca recebeu uma oferta.
Aos 61 anos, aposentou-se no mesmo cargo, em 1971. Em seus últimos anos, trabalhou com as suas colegas e também matemáticas Katherine G. Johnson e Mary Jackson no lançamento do astronauta John Glenn em órbita. Viria a falecer em 10 de novembro de 2008, aos 98 anos. Vaughan era membro da Alpha Kappa Alpha, uma irmandade afro-americana, e também participante ativa da Igreja Episcopal Metodista Africana, onde participou de atividades musicais e missionárias, tendo até escrito uma música chamada “Math Math”.
A história de sua colega Mary foi pouco explorada quando o filme chegou ao Brasil e, a meu ver, é a história que mais reflete o poder da coletividade e da colaboração das mulheres negras entre si e para os outros. Reflete a necessidade e a importância de projetos que hoje estão incentivando mais mulheres negras e indigenas em áreas techs, conhecer histórias como a de Mary nos ajuda a entender como viemos parar aqui. Hoje você já colaborou para uma mina começar na tecnologia hoje?