Notícia: Clima Brasil 2020

Debate desta terça-feira (22/09) discute o cenário do clima no Brasil hoje

Segundo relatório da ONU, lançado em março de 2020, o período de 2010 a 2019 foi a década mais quente da história. O aumento da temperatura, inclusive, tem crescimento sucessivo a cada década desde 1850. Como apresentado no panorama, o ano de 2019 foi o terceiro mais quente, perdendo apenas para 2016 e 2015, período em que o fenômeno El Niño atuou na mudança de temperatura da superfície do oceano Pacífico, gerando fortes impactos climáticos na América do Sul e no mundo.

Imagem de um incêndio no Pantanal matogrossense
Queimadas no estado do Mato Grosso em julho de 2020 atingem o Pantanal. (Foto: AFP)

Todas essas mudanças climáticas afetam consideravelmente os diversos biomas espalhados pelas dimensões continentais brasileiras. Por conta do vasto território em longitude e latitude, o Brasil em si é composto por seis biomas diferentes, que apresentam ecossistemas com características semelhantes.

São eles: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Mas como esses efeitos no clima impactam o nosso meio ambiente e colocam o equilíbrio dos nossos biomas como pauta fundamental? O debate desta terça-feira (22/09) discute o cenário do clima no Brasil hoje, a partir de uma análise das mudanças climáticas e dos impactos do crescimento de queimadas e desmatamento em solo brasileiro.

Para compreender melhor este contexto e debater estratégias que precisam ser tomadas no enfrentamento desses problemas, a apresentadora Gabriela da Cunha conversou com a Ane Alencar, uma das coordenadoras do Mapbiomas, projeto de mapeamento anual da cobertura e uso do solo do Brasil. Ane também é diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e especialista em fogo e incêndios florestais.

Além de Ane, o Debate também contou com a participação de Carlos Nobre, um dos maiores cientistas do mundo na área de aquecimento global. Carlos fez parte do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, foi pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE) e é pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.

O debate também abordou, em reportagem do Lucas Basilio, da Universidade Positivo, parceira do Canal Futura, o monitoramento do solo brasileiro, em especial na questão envolvendo o desmatamento na mata atlântica, a falta de chuvas no Paraná e os problemas no abastecimento de água na região.

A TV Univali, também parceira do canal, traz ao Debate uma reportagem de Almeri Cezino sobre os recentes eventos climáticos em Santa Catarina e o aumento de tornados, devido às mudanças climáticas no bioma da região. Danicley Aguiar, membro do Greenpeace, e Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI) também participam desta edição do Debate sobre o clima no Brasil hoje.

O cenário geral do clima no Brasil

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em junho deste ano foram registrados 2.248 focos de calor na região amazônica. Inclusive, foram registrados mais de 1.000 km² de áreas perdidas do bioma entre agosto de 2019 e julho deste ano. O número é 40% maior que o do mesmo período do ano anterior.

Diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Ane Alencar alerta para o perigo do desmatamento e o estabelecimento da agropecuária em terras protegidas no maior bioma do Brasil. “A pastagem é o principal tipo de uso da terra que domina as áreas já desmatadas no Brasil e a agricultura tem crescido no Brasil por meio da ocupação dessa área de pastagem”, explica Ane.

Imagem de uma mulher à frente de várias árvores. Ela está sorrindo e olhando para quem bateu a foto e tem a pele morena, cabelos acinzentados

Quando aplicado à perda de área em outros biomas, o número continua alto. “O Pantanal tem tido uma taxa de conversão, ou seja, de conversão da vegetação nativa, impressionantemente maior que a Amazônia, por exemplo. Nos últimos 35 anos, cerca de 13% da vegetação nativa do Pantanal foi perdida”, alerta a especialista em fogo e incêndios florestais.

Por falar no Pantanal, o bioma sofre com queimadas crescentes durante o ano de 2020. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), ao menos 2,9 milhões de hectares do Pantanal já foram destruídos por queimadas, o que responde a 19% de toda a área do bioma. Na Amazônia, o número é de 12%.

“Em particular, nos últimos dois anos, nós tivemos período de seca muito intenso. Ano passado em outubro e novembro, e tivemos um pico de queimadas nessa época. Esse ano também tivemos um período de seca, que veio na época normal, mas está mais intensa. Assim como todo o sul da Amazônia, o que favorece muito a propagação das queimadas”, relatou Carlos Nobre, pesquisador de Estudos Avançados da USP.

Imagem de um homem de cerca de 60 anos, de óculos e cabelos grisalhos. Eles está sorridente e vestindo uma camisa pólo roxa
“É muito provável que esse descontrole das queimadas, um recorde de queimadas no Pantanal em julho e agosto, possa ser realmente um efeito das ações humanas”, afirma o especialista em aquecimento global Carlos Nobre. (Foto: Acervo Pessoal)

Dados do INPE informam que o Pantanal já registrou 15.756 focos de incêndio este ano, o maior número registrado desde o início do monitoramento no bioma. “É muito provável que a maioria (das queimadas) seja de origem humana, porque está extremamente seco no Pantanal. Não há formação de nuvens. Nós estamos em uma das estações mais secas das últimas décadas. A umidade relativa do ar está baixíssima, inclusive afetando a saúde das pessoas. Então é muito provável que esse descontrole das queimadas, um recorde de queimadas no Pantanal em julho e agosto, possa ser realmente um efeito das ações humanas.”, afirma o especialista em aquecimento global.

Outras regiões do país também sofrem com as secas. A represa do Passaúna, que abastece Curitiba, capital do estado do Paraná, sofre com a estiagem e a falta de chuvas na região desde abril deste ano. O Ciclone Bomba, que atingiu a região no final de junho, trouxe chuvas e ventos fortes, mas a água proveniente desta chuva provocou apenas um escoamento superficial e teve pouca penetração no solo, de acordo com o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar).

A situação da represa se estende há meses com baixo índice fluvial e o Paraná hoje registra a maior seca da história do estado. Professor e diretor do Labclima na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Fontão explica que “desde 2010 já há alertas sobre a necessidade da criação de novos reservatórios a longo prazo”.

Imagem de várias árvores, uma floresta como um todo, pegando fogo. A fumaça já cobriu mais de 70% da imagem
Nos últimos 35 anos, cerca de 13% da vegetação nativa do Pantanal foi perdida. (Foto: AFP)

O professor também argumenta que é importante investir na gestão das águas como um planejamento efetivo contra as secas. “Isto seria para passarmos por situações como essa no futuro sem gerar tanto impacto na população”, afirma Pedro. Os efeitos do Ciclone Bomba, entretanto, não atingiram somente o estado do Paraná, mas sim todo o sul do Brasil. Santa Catarina foi um estado afetado pelo fenômeno, que tem se tornado mais frequente por conta das mudanças climáticas. De acordo com Mauro Michelana, professor da Univali, as mudanças no clima brasileiro tornam fenômenos atípicos, como o ciclone, cada vez menos esporádicos e mais corriqueiros.

Como evitar os males no clima brasileiro?

Além de analisar o cenário em nosso clima brasileiro, nos mais variados biomas, essa edição do Debate buscou aproveitar a experiência dos convidados para discutir possíveis soluções e estratégias de prevenção às queimadas e desmatamentos. O INPE, o Ibama, o Mapbiomas e outras organizações de monitoramento e fiscalização assumem caráter fundamental na preservação e fortalecimento das características naturais dos biomas brasileiros. Ex-coordenador do INPE e membro do Painel Intergovernamental da ONU para Mudanças Climáticas, Carlos Nobre pontua que os dados são obtidos e repassados ao poder público, mas há uma lacuna no processo de execução da fiscalização.

“O problema não está no sistema de dados, por mais que seja sempre importante melhorar os sistemas”. Carlos ainda acrescenta, “o buraco está na dificuldade de fiscalização e na falta de ação contra o crime organizado, o crime ambiental organizado”.

Seguindo na mesma linha, a coordenadora do Mapbiomas, Ane Alencar afirma que é “super importante a gente entender que hoje temos um aparato tecnológico suficiente para fazer toda e qualquer fiscalização. O que está faltando é uma vontade política de agir”.

Imagem de um desmatamento. Há árvores cortadas e troncos caídos pelo chão coberto de cinzas

Inclusive, Ane também entende que o processo de degradação dos biomas brasileiros envolve a agropecuária brasileira e o seu processo de desmatamento de áreas preservadas para uso inadequado da terra. “O pensamento do futuro, que deveriam estar tendo agora, é de qual o valor dessa biodiversidade que a gente está perdendo para colocar pastos improdutivos ou para colocar uma agricultura que não vá investir em todo seu potencial produtivo e eficiente. Essa virada de chave no agronegócio brasileiro é que precisa acontecer”, afirma Ane.

Para Carlos Nobre, a mudança no pensamento sobre o uso da terra também passa por uma transformação da agropecuária. “O setor mais conservador do agronegócio, por incrível que pareça, ainda não se deu conta que o clima do planeta está mudando”. “Nós precisamos introduzir no Brasil a agricultura do século XXI. Ela é baseada em ciência, tecnologia moderna, agricultura regenerativa”, explica Carlos.

Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), explica que a companhia já atua há algum tempo com a pauta de preservação dos biomas brasileiros. “A gente já vem trabalhando há bastante tempo essa agenda de meio ambiente e sustentabilidade dentro da CNI e recentemente nós temos intensificado o trabalho em dois novos temas, que são: a economia circular e bioeconomia, que estão bastante conectados com a agenda internacional”.

Imagem de um homem moreno de barba ralinha bem aparada, cabelo curto bem tratado e sorridente. Ele está trajando um terno, com a gravata vermelha
Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, já atua há algum tempo com a pauta de preservação dos biomas e do clima no Brasil. (Foto: Acervo Pessoal)

Além deste ponto, Davi afirma que mecanismos de rastreabilidade do produto são fundamentais para se identificar a origem de um insumo ou matéria-prima, uma demanda bem recorrente no mercado atual e que visa preservar a floresta.

Já Danicley de Aguiar, do Greenpeace Brasil, acredita que devemos ter como ideal a preservação da floresta, uma vez que ela pode nos ajudar a regular e combater o aumento na intensidade das mudanças no clima do Brasil. “A Amazônia é a contraface de uma moeda. Se você por um lado promove o desenvolvimento regional de forma harmonizada com a floresta, você colabora para o combate às mudanças climáticas. Se você combate as mudanças climáticas, você também colabora para a manutenção da floresta amazônica”, afirma Danicley.

Assista ao Debate sobre o clima no Brasil hoje!
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