Destino: Educação – Fórum traz debates e o lançamento da 5ª temporada da série
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Destino: Educação – Fórum de debate para o lançamento da 5ª temporada – 1º dia
Escolas com práticas inovadoras e inspiradoras. Gestoras, gestores, professoras e professores imbuídos de técnica, pesquisa e paixão para que uma educação básica de qualidade chegue a cada indivíduo, sem distinções – não deixando #Nem1PraTrás.
Isso é o que mostra a série documental Destino: Educação, realizada pelo Futura, em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI), que chega à sua 5º temporada. O foco, desta vez, é em experiências de escolas nas Américas, abordando temas sobre políticas públicas dedicadas à Educação.
Para celebrar o lançamento dos novos episódios da série, foi realizado um fórum que contou com alguns nomes de muita relevância no assunto, trazendo exemplos de boas práticas. O evento aconteceu nos dias 8 e 9 de setembro de 2020, por videoconferência, devido à pandemia do novo coronavírus.
A mediação foi da jornalista e consultora em Educação Ana Catarina Pinheiro.
Fórum Destino: Educação – confira os destaques do 1º dia

Políticas públicas que geram avanços significativos em Educação
O debate teve início com Fernando Abrucio, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. Ele destacou pontos que considera importantes para uma política educacional:
- A existência de um programa pensado de forma sistêmica;
- Um modelo geral de governança;
- Considerar os contextos específicos e escolher as medidas adequadas.
Segundo Fernando, há de se planejar a governança do processo com a participação dos principais atores, de forma coordenada, com uma estratégia de articulação entre eles. Um processo de formação de qualidade, definição de objetivos claros (e ter meios para aferi-los e aperfeiçoá-los constante e permanentemente), financiamentos, gestão, currículo, avaliação e consequente transformação educacional também precisam fazer parte dessa equação.
Abrucio ressaltou ainda que todas e todos devem estar cientes da importância do trabalho coletivo, das estratégias de gestão e pedagógicas para as especificidades educacionais. Uma visão mais ampla de aprendizado e resultados da educação também devem compor esse universo de pensamentos, segundo o professor.
“Podemos reproduzir os resultados bem-sucedidos pelo mundo adaptando-os para as realidades específicas; avaliando sempre e reajustando os processos”
Abrucio trouxe 2 casos de implementação de políticas educacionais nas Américas. O primeiro foi o já bastante famoso caso da província de Ontário, no Canadá. Nas escolas daquela região (isso também acontece em outras províncias canadenses), o que se vê é uma participação ativa dos atores educacionais, um desenvolvimento permanente de lideranças, foco no pedagógico e espaço constante para a inovação.
Conectado à experiência do Canadá, chegamos ao 2º caso apresentado, das escolas do Ceará. O modelo adotado pelas redes municipais e estadual tem coordenação federativa e coerência intertemporal, focado em soluções pedagógicas, formação de professores e lideranças, combinação de competição e cooperação, aprendizado organizacional contínuo e construção de uma visão educacional com altas expectativas.
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Ensino Fundamental: garantia de qualidade na aprendizagem
Ficou a cargo de Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV, trazer experiências sobre iniciativas dedicadas ao Ensino Fundamental. Os Ginásios Experimentais, que Claudia implementou no Rio de Janeiro, serviram de pano de fundo para que as práticas e os métodos utilizados fossem compartilhados no fórum.
Além dos Ginásios, Costin abordou alguns dos Novos Objetivos Globais para o Desenvolvimento Sustentável, concebidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), a serem atingidos até 2030. O documento da ONU expõe que devemos “assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”.
“É extremamente importante que tenhamos, todas e todos, a formação nos ensinos Fundamental e Médio”
A partir dali, apresentou dados sobre a crise de aprendizagem no Brasil, como a insuficiência na capacidade de leitura e em Matemática, com gargalos importantes que se agravam conforme avançamos no Ensino Fundamental, até o 9º ano. Exceção feita ao 5º ano, que vem melhorando seus índices no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) desde 2005.
Dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) reforçaram a importância de iniciativas como a série Destino: Educação, ao evidenciarem o baixo desempenho da educação no Brasil: estamos entre os 20 países com menores índices de qualidade educacional, sofremos com grande desigualdade no ensino, dispomos uma carreira pouco atrativa ao professor e contamos com uma formação de professores, na Graduação, afastada da prática, que não prepara para a profissão em si.
Alguns caminhos para a solução
Segundo Claudia, alguns pontos podem nos ajudar a melhorar o cenário da Educação no Brasil:
- A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com a ideia do projeto de vida do estudante e o trabalho com competências mais contemporâneas;
- Uma formação para a autonomia e o protagonismo da(do) estudante;
- Incluir o 6º ano no grupo dos anos iniciais do Ensino Fundamental (“Ensino Fundamental 1”);
- Oferecer condições para que professoras e professores fiquem alocados em uma só escola, para incrementar o planejamento e a formação continuada e colaborativa.
Como uma alternativa de solução, por considerar alinhamento com as vocações, os desejos e as realidades de cada adolescente, Costin citou o exemplo do Inova Educação, programa criado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, com o propósito de oferecer novas oportunidades para todos os estudantes do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio da rede estadual.

Desafios da Educação Infantil
Beatriz Ferraz, doutora em Educação e consultora especialista em Educação Infantil, apresentou o caso de sucesso da Escola de Educação Infantil Almerinda Pereira Chaves, em Jundiaí, São Paulo.
O que sustentou a escolha de Beatriz pelo caso foi um objetivo bastante claro: inspirar os formuladores de políticas públicas e profissionais de educação que estejam interessados em desenvolver um projeto educativo voltado à Educação Infantil de qualidade. Tudo isso devidamente alinhado às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) e à BNCC (etapa relacionada à Educação Infantil).
Práticas inovadoras
Na escola Almerinda Chaves, a educação se dá por meio de uma prática pedagógica conhecida como abordagem Reggio Emilia. O nome é de uma cidade no norte da Itália, em que a rede de escolas adota experiências filosóficas e de transformação, inovadoras em seu pensamento teórico e em compromisso permanente com a curiosidade, a investigação e o desenvolvimento de estratégias educacionais.
“Faz sentido que a gente possa dialogar com uma abordagem educacional que esteja alinhada aos nossos princípios e conceitos”
De acordo com Beatriz, “a escolha pela abordagem italiana tem relevância para o objetivo brasileiro por considerar o contexto atual de implementação da BNCC da Educação Infantil no nosso país e as afinidades entre o que alicerça as premissas em ambos os casos”. Algumas delas, citadas por Beatriz:
- Identidade da Educação Infantil;
- Cuidar e educar;
- Relação com a família e a comunidade;
- Concepção de aprendizagem, de ensino e do papel do professor;
- Organização dos tempos, dos ambientes, dos espaços e dos materiais;
- Documentação pedagógica;
- Abordagem curricular baseada em direitos de aprendizagem e desenvolvimento;
- Organização curricular por Campos de experiências.
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Experiências exitosas para alfabetização de crianças
Mara Mansani é professora e alfabetizadora, ganhadora do Prêmio Educador Nota 10, e compartilhou com todas e todos a experiência educacional da cidade de Coruripe, em Alagoas.
O destaque da rede municipal de educação da cidade alagoana se dá não só no contexto regional, mas também nacionalmente, e tem servido de inspiração para gestoras e gestores que enfrentam o desafio da busca por uma alfabetização de qualidade.
Para Mara, alguns pontos se mostram primordiais para que o processo de alfabetização se dê com tamanho sucesso por lá. Ela destacou alguns:
- Mudanças a partir da implementação de políticas públicas;
- Educação de qualidade para todas e todos – uniformidade da rede pública de ensino;
- Evidências da aprendizagem por meio de índices educacionais;
- Permanente definição e revisão de desafios.
“Uma alfabetização de qualidade requer um processo que envolva todas e todos continuamente”
Foi a partir de 2013 que começou a grande virada positiva da rede de ensino municipal em comparação aos demais municípios do estado. Mas os esforços em Coruripe repercutiram em outras cidades também, disse Mara, já que muita troca de experiência aconteceu por conta de uma rede consolidada de relacionamento entre escolas, em arranjos intersetoriais. O uso de laboratórios de aprendizagem para atender a estudantes com dificuldades também é praxe em Coruripe.
Práticas inovadoras
Mara detalhou parte das estratégias pedagógicas adotadas por lá: “Eles entendem como um ciclo o período do 1º ao 3º ano. É a(o) mesma(o) professora(or) que segue com a turma durante os 3 primeiros anos do Ensino Fundamental. É um processo de aprendizagem, logo, leva tempo, e eles compreendem isso. Esse raciocínio se aplica aos anos seguintes: a professora do 4º ano segue com a mesma turma no 5º ano“.
Para estimular ainda mais que o processo continue dinâmico e com qualidade, Mara conta que “a formação das(os) professoras(es) acontece durante todo o percurso, interna e externamente, com professores (re)transmitindo essa formação entre eles”. Contar com educadores tão envolvidos no processo pedagógico fez com que elas e eles mesmos preparassem seus próprios materiais. E isso acontece até o 5º ano do Ensino Fundamental.
Os resultados falam por si: com essa filosofia de trabalho, aliada a uma prática que se avalia e reavalia permanentemente, com espaço para o novo, formação continuada e constante troca de experiências, a Escola Municipal Vereador José Wilson Melo Nascimento tem, hoje, o melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Competências socioemocionais na Educação Básica
Tatiana Filgueiras, vice-presidente de Educação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, apresentou um caso de estudo sobre o trabalho com as habilidades socioemocionais feito em uma escola do Chile.
O Centro de Educación Paula Jaraquemada fica em Santiago, e atende a uma das áreas mais vulneráveis dentre as 52 que formam a região metropolitana da capital chilena. Mesmo diante de tamanho desafio, essa escola foi classificada pela Agencia de Calidad de la Educación chilena como de alto desempenho.
As razões elencadas por Tatiana revelam o seguinte: práticas e planejamentos pedagógicos que tenham nas dimensões socioemocionais um de seus componentes centrais geram resultados positivos.