Artigo: Eleição e Guerra: em busca de um inimigo

Eleição e Guerra: em busca de um inimigo

Não conseguimos nos livrar das guerras. Para a pensadora marxista e revolucionária Rosa Luxemburgo o militarismo está essencialmente associado ao capitalismo, cumprindo uma função central no processo de acumulação do capital.  

Existe outra explicação política (com “p” minúsculo). No que chamávamos de pós-Guerra Fria a popularidade de Presidentes tem sido alavancada por atos de guerra: George Bush nos EUA chegou a 90% de aprovação com a Guerra do Golfo; Sarkozy na França ganhou alguns pontos ao mandar tropas contra o ditador Muammar Kadhafi na Líbia, porém insuficientes para garantir sua reeleição em 2012.  

Não há boa informação sobre a popularidade de Putin na Rússia com a guerra contra a Ucrânia. O mais provável é que se houvesse uma eleição limpa agora Putin seria arrasado nas urnas. Mas sua imagem e seu discurso militarista já lhe trouxeram popularidade ao longo do interminável mandato presidencial. É sempre mais fácil unir a sociedade na luta contra um inimigo comum e ainda mais conveniente se for externo. 

A construção de uma identidade, seja nacional ou de um grupo social, se dá pela via do pertencimento, pela comunhão de valores, ideias e hábitos. Em sua obra A identidade cultural na pos modernidade, o pensador jamaicano-britânico Stuart Hall apresenta e discute a ideia de que “no nosso mundo pós-moderno, nós somos também ‘pós’ relativamente a qualquer concepção essencialista ou fixa de identidade”. Essa fragmentação e movimentação das identidades torna mais difícil a tarefa de um líder que queira unir e mobilizar um grupo para uma ação política. Escolher um “outro” com uma identidade teoricamente “oposta” à nossa é um recurso muito usado por lideranças que não respeitam a pluralidade nem a liberdade. 

Nesse contexto, na democracia representativa, candidatos e partidos ficam tentados a mirar em um inimigo que facilite suas campanhas e sua atuação política, definindo sua representação sempre pelo que é contra alguém(ns), mobilizando medos e ressentimentos que sempre existem em cada indivíduo. 

 

"Não conseguimos nos livrar das guerras" - Foto de Алесь Усцінаў no Pexels
"Não conseguimos nos livrar das guerras" - Foto de Алесь Усцінаў no Pexels

Democracia construtiva: Votar POR e A FAVOR do futuro 

Em outra vertente Política (com “P” maiúsculo) estão propostas e discursos que, ao invés de buscar um inimigo, tentam construir uma identidade e unir em torno de objetivos compartilhados. 

Venho colecionando colunas e entrevistas de pensadores e lideranças políticas sobre essa construção. São dezenas de ideias inteligentes e inspiradoras de nomes como Armínio Fraga, Samuel Pessoa, Luiza Trajano, Oded Grajew, Laura Carvalho (alguns títulos mais recentes: “O futuro da democracia e os desafios do Brasil”, “Escolha Social”, “...não sou candidata a nada, mas sou uma pessoa política”, “Agenda para o próximo presidente”, “Por uma nova agenda econômica”...).

Fiz uma contribuição no capítulo sobre Opinião Pública e Participação no livro BRASIL nos anos 2020: desafios e possibilidades concebido e escrito antes, mas com posfácios escritos às pressas e lançamento já no contexto da pandemia. Desafiei lideranças democráticas a vencerem “o vício da disputa eleitoral” começando por definir “poucas e boas” perguntas-guia, explicitando escolhas e cenários alternativos em temas como economia, meio ambiente, segurança, governança da internet e investindo em uma base de informação plural e honesta para a cidadania se posicionar (e deliberar) frente a tais problemas. 

E aqui também deixo um desafio para eleitoras e eleitores nesse ano extremamente crítico para nosso futuro: como iremos votar? Que tal começar se fazendo algumas perguntas bem simples: vou votar contra ou a favor da natureza? vou votar contra ou a favor de que todas as brasileiras e todos os brasileiros possam ter uma vida digna?  

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