Artigo: Empreender “por causa” ou “para a causa”?

Empreender “por causa” ou “para a causa”?

Este título, com tom de romance, sempre foi e ainda é uma discussão recorrente para quem decide empreender no campo do impacto social, onde esses agentes da mudança e transformação são chamados de “Empreendedores Sociais”. 

Mas enfim, no apagar das luzes, no frigir dos ovos e no choque da realidade… Ainda é possível empreender apenas para a causa?

Neste momento, eu gostaria que este artigo fosse uma roda de conversa, para ver e ouvir as expressões de quem segue lendo. Afinal, o dilema da sustentabilidade financeira e a urgência dos boletos ditam o tom desta conversa que faz com que quem vive os desafios aos quais se propõe a enfrentar sinta-se responsável diretamente pelas soluções que impactaram e ainda impactam a sua vida, de sua comunidade e/ou grupos com os quais se identifica e/ou representa.

Por outro lado, há um mercado em ascensão, pré-pandêmico, chamado de mercado do impacto e negócios sociais, onde a empatia se torna ferramenta e discurso estratégico de indivíduos e grupos bem preparados, com muito acesso à educação formal, recursos financeiros e não-financeiros, que servem como trajes, uniformes desses heróis e heroínas que trazem consigo a promessa da solução de todas as mazelas sociais por preço módico ou um ticket médio.

Algumas pessoas estão sentadas à mesa, com copos de café e blocos de anotação. Duas delas se saúdam com um aperto de mão.

Em algum momento você pode ter interpretado que eu fazia algum juízo de valor ou dizia quem estava certo ou errado nessa balança, certo? Mas não, ou nem tanto quanto imaginou.

Sempre que participo de eventos ou formações, as perguntas que vêm da plateia sempre estão relacionadas ao propósito, o porquê de começarmos a fazer isso, ou - a que mais gosto - qual é o ponto de equilíbrio?

Eu sempre digo uma frase: a causa não pode ser maior do que por o feijão na mesa!

Por que é isso, né, gente? Os boletos sempre chegam.

Na minha trajetória pelo campo do empreender no social, pude experimentar, observar e, acredito, contribuir para a evolução deste debate, para fomentar o surgimento de novas lideranças negras, lgbtqia+ e periféricas que estivessem dispostas a não só criarem modelos híbridos deste empreender, mas que também quisessem ocupar espaços nesse campo. 

E pude constatar que os empreendedores preocupados com impactos sociais positivos geralmente atuam com o objetivo de potencializar as comunidades do entorno e impulsionar o desenvolvimento local, atuando na área de educação, cultura e geração de emprego e renda, temas transversais ao modelo de negócio de 55% das iniciativas consultadas na pesquisa INCLUIR, realizada pelo SEBRAE, em parceira com a PNUD em 2017.

Para mim, o foco é muito menos filosófico e mais ético-estratégico. A construção de alianças e a abertura ao diálogo para construção de pontes e acessos devem ser prioridade para a mudança de paradigmas, como o apresentado acima sobre a elitização da atuação no campo do impacto social.

Uma mulher toma um café diante de um laptop, com um cachorro ao seu lado.

Até aqui eu falei apenas do papel dos indivíduos e agentes que atuam nessa área, mas não podemos esquecer do papel importante de quem fomenta e investe neste setor, e que tem um papel primordial na construção de oportunidades para que estas mudanças surjam. Isso vai desde a curadoria e seleção de profissionais para atuarem nos projetos que estão apoiando ou de quem os lidera, a garantir condições e remunerações justas para os grupos vulnerabilizados engajados nas atividades e, claro e não menos importante, o compromisso com a diversidade!

Eu gosto sempre de usar uma frase: empatia não substitui vivência!

E os boletos não se pagam com, apenas, amor a uma causa. Por isso, para a saúde física, mental e financeira de quem empreende para a causa, por e pela causa, pense sempre em um ponto de equilíbrio. Tenha em mente uma equação simples ao receber uma demanda de um projeto ou quando tiver a ideia de criar um: eu (pode ser nós) consigo fazer? Existe uma demanda real do projeto? E, não menos importante: existe alguém disposto a financiar?

Mas eu ainda tô aqui curioso: vocês estão empreendendo “por causa” ou “para a causa”?

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