Artigo: O privilégio à vida e o direito ao extermínio

A população negra e a violência policial

26 mortos na Vila Cruzeiro. O que essas vidas têm em comum? A cor: são todos pretos e pobres.

Segundo um levantamento apresentado no final de 2021 pela Rede de Observatórios da Segurança, apesar da população negra representar aproximadamente 52% das favelas, 86% das mortes em decorrência de ações policiais nesses territórios, no Rio de Janeiro, são de pessoas negras.

Um número assombroso, que ganha nome e sobrenome quando lemos essas notícias nos jornais.

A chamada Guerra ao tráfico segue legitimando a pena de morte no Brasil. Eu, particularmente, nem gosto de chamar de “guerra”, pois, para mim, a guerra legitima atos que jamais deveriam ser relativizados, como uma mãe enterrar sua filha, que foi baleada dentro de casa.

Na nossa “guerra diária” não há acordo, mediação; não há cessar fogo… há apenas o silêncio ensurdecedor das injustiças e a lamentação daqueles que dizem que só seguiram as ordens de seus superiores. É a banalidade do mal, como disse Hannah Arendt.

No final, o que nos resta são fotos, obituários, sofrimento e um Estado de Direito fragilizado, que escancara o racismo e a desigualdade.

Seguimos sem poder respirar, afinal, se não podem apertar o nosso pescoço com os pés, eles nos predem e nos matam numa espécie de câmara de gás.

O que resta, depois de ler sobre tudo isso, é o nó na garganta. A angústia de ser alvo, o medo de ser morto e de cair na próxima armadilha do racismo, afinal, ele é o nosso instrumento de tortura diário.

Hoje essa coluna está de luto, porque no Brasil a dor e o luto tem cor.

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