Porque será que é tão difícil ouvir a voz de mulheres negras?
Compartilhar
Hoje, dia que escrevo esse texto, é dia 20 de fevereiro e no meio de uma semana difícil me dou conta que faz um mês que a cantora Elza Soares nos deixou. De legado nos deixou a sua música, a sua história e um pedido: Que a deixassem cantar até o fim.
Mas porque será que é tão difícil ouvir a voz de mulheres negras?
Somos à imagem e semelhança daquilo que você aprendeu a odiar, a achar feio, a silenciar.
Em “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola”, Maya Angelou nos atravessa com a sua história que foi marcada pelo silêncio. A história de uma menina que sofre uma violência sexual e que ao descobrir que seu agressor foi encontrado morto ela pensa que suas palavras têm poder de matar, a partir disso ela fica sem falar por cinco anos. A culpa a cala.
Elza também teve a sua vida atravessada por um abuso sexual. Na falta de espaço para reivindicar teve que se casar.
Mas como diz em uma das suas músicas, “ser feliz no vão, no triz, é força que me embala.” Foi nesse vão que Elza, através da sua voz, denuncia o planeta fome e reescreve a sua história, história que precisou recriar várias vezes.

Assim como Elza, Maya Angelou fez da sua voz, através da literatura, a sua ferramenta de cura e de denúncia, rompendo com o silêncio e nos ajudando a encontrar a nossa voz. Elza cantou aquilo que se cala, Maya Angelou escreveu aquilo que se teima apagar.
Ouçam, leiam, cantem e exaltem mulheres negras. Nós carregamos a história da resistência e a esperança de novos tempos.
Fomos caladas por anos, amordaçadas, censuradas, privadas do direito à fala, mas como diz Conceição Evaristo: eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer.
Nós somos a mulher do fim do mundo e vamos cantar até o fim.