Artigo: Quem te ensinou a se odiar?

Enquanto escrevo esse texto falta uma semana para o show do Emicida aqui no Rio de Janeiro. Mais que um cantor, Emicida se tornou uma voz de uma geração que reivindica seu espaço e exalta sua beleza.  

Quando eu trabalhei com o jurista e professor Silvio Almeida tive a oportunidade de participar de uma entrevista com o cantor. O rapper contou sobre sua ida à África e como foi bom ver gente preta em todos os lugares. 

A gente está cansado de saber sobre a importância da diversidade e representatividade, mas ainda sinto que estamos numa jornada longa de reconhecimento do nosso valor e de nos amarmos. Malcolm X em 1962 vai nos questionar “quem te ensinou a se odiar?”, uma pergunta “simples”, mas que talvez não tenha uma resposta única. 

Filha de pai branco e mãe negra, cresci em uma família miscigenada. “Branca” demais para estar de um lado e preta demais para estar no outro. Sem saber exatamente o que era, me sentia inadequada aos espaços. Ouvia que precisava dar um jeito no meu cabelo, ouvia que o surto de piolho só poderia ter partido de mim… ouvia. Calada. 

Até hoje eu ouço muita coisa e muitas vezes calada. O que me venho perguntando é: por que calada?

Foto de lucas da miranda no Pexels
Foto de Lucas da Miranda no Pexels

Fomos ensinados a nos odiar, então é difícil, muitas vezes, não se identificar com uma fala. Nunca tivemos voz, então às vezes é difícil falar também. Talvez a resposta possível seja apenas resistir, seja apenas não ir embora. 

Somos a geração de primeiros. Sentimos na pele a estranheza dos olhares,  então criamos as nossas estratégias. Uns se fecham, outros buscam símbolos para ficarem parecidos com o espaço, outros engolem a seco, e nesse jogo não existe certo e errado, existe o que é possível para você. 

Uma vez eu ouvi que sorria demais. Isso veio em tom de crítica, como se fosse um demérito. Às vezes eu me questiono se sorrir é a minha estratégia para seguir. Talvez seja e está tudo bem. 

Foi o sorriso e a minha doçura que me trouxeram até aqui. Nossos ancestrais trabalhavam cantando, apesar de tudo.  Talvez sorrir e cantar seja uma forma de mostrar ao nosso algoz que estamos vivos apesar de tudo. 

Nosso corpo é político, escapar da estatística foi a sua melhor resposta ao ódio. No final, como diz Emicida, lutamos para que o “amanhã não seja um outro ontem”. 

Encontre suas armas, empodere-se delas e siga. 

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