Confira o que rolou no Negritudes Globo 2024
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Refrão do MC Estudante abre o Festival Negritudes no Rio de Janeiro
O primeiro painel, "Sucesso e Inspiração", foi mediado pela jornalista e apresentadora Maju Coutinho, com participação da atriz Regina Casé, do criador de conteúdo Hugo Gloss e da apresentadora Thelminha de Assis. Uma conversa que celebrou as conquistas e reiterou a importância da busca pela realização dos sonhos, servindo de inspiração para outras pessoas negras.
Regina Casé destacou a importância de abrir caminhos. "Não quero ser a voz dos pretos da TV, mas quero iluminar e ser ponte para essas pessoas”, reforçou. Ela citou que isso aconteceu diversas vezes durante seu programa ‘Esquenta’, que ficou no ar durante sete anos na TV Globo. Entre os exemplos, o cantor Mumuzinho, lançado na atração e que além de amigo pessoal é sucesso no samba e pagode no Brasil inteiro.
Hugo Gloss contou sobre sua trajetória e seus esforços em derrubar barreiras e seguir em busca dos seus sonhos em suas áreas de atuação. “Ser inspiração, se reconhecer pelo outro leva a gente a seguir em frente”, afirmou. Ao longo de sua carreira, Hugo Gloss já entrevistou ícones como Viola Davis, premiada atriz; Shonda Rhimes, criadora da série ‘Grey’s Anatomy’, entre outros.
Já Thelminha que atua como apresentadora, modelo e médica, além de ser apaixonada por Carnaval, com participação em desfiles na Mocidade Alegre (SP) e Mangueira (RJ), definiu: “Sucesso é a gente conseguir sair do lugar que nos colocaram, dos nãos que a gente ouviu”.
Gente preta feliz
“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. Assim a jornalista Aline Midjei abriu a segunda mesa do dia. A célebre frase da ativista e intelectual Angela Davis marcou o início do bate papo sobre a alegria da cultura afro-brasileira, com participação de Sheron Menezzes, do fotógrafo Wendy Andrade, da CEO da Inhai, Raquel Virginia, e do influenciador Julio de Sá. A importância de quebrar o paradigma da narrativa de sofrimento imposta aos negros e mostrar que sorrir também é resistir foi o fio condutor da troca.
Sheron Menezzes lembrou da sua primeira protagonista Sol, em ‘Vai na Fé’, que em meio às adversidades da vida, nunca deixou de sorrir. “A Sol tinha a felicidade no seu rosto. Ser feliz é nosso direito. A criança nasce feliz até que alguém diz: ‘nossa que cabelo feio’ e essa felicidade é minada. Precisamos construir a autoestima dessas crianças, pois quando a gente faz isso, não tem quem diga que ela é feia”
Wendy Andrade citou alguns momentos seus de felicidade. “Valorizo as minhas pequenas vitórias, como conseguir ir a um restaurante e não precisar pensar no valor da conta; ou poder fazer mais pelos meus pais”. Trabalhando com fotografia desde 2013, Wendy está preparando o livro “Eu Consigo te Ver Feliz”, em que reuniu fotografias de crianças saltando na Baía de Todos os Santos (BA) e na Baía de Guanabara (RJ).
Júlio de Sá fez todos se emocionarem, dizendo que estar no Festival Negritudes é um momento de muita felicidade, principalmente por ter seu pai e amigos na plateia. “Trabalhei como produtor de eventos por um tempo, já cheguei a dormir nesse chão. Então ter meu pai aqui, um homem negro, sensível, na plateia, é um momento de muita alegria.”
Raquel Virginia, reforçou em sua fala o quanto é importante acessar as belezas negras no teatro, na literatura e no cinema. “Um livro de Machado de Assis, um homem negro, jamais será apagado. É preciso acessar a negritude do ponto de vista eterno, porque seremos eternos”, finaliza.
Multilinguagens e Multiversos
O aquecimento para a terceira mesa foi especial, com uma apresentação do músico Jonathan Ferr, talento do jazz.
As multilinguagens do audiovisual e os profissionais que trazem nessa diversidade histórias tão coletivas e ao mesmo tempo tão peculiares, foram alguns dos pontos debatidos no papo mediado por Kenya Sade, com a presença da diretora Luisa Lima, o autor e diretor Elísio Lopes, o pianista Jonathan Ferr e o empresário Kondzilla.
Emocionado, Elísio Lopes reforçou a importância de representar diversos irmãos e irmãs por meio de suas obras, construindo histórias e narrativas marcantes. “Por ser uma voz plural me sinto livre neste momento. A responsabilidade com a telenovela no Brasil é muito grande porque foram muitos anos ouvindo o que a gente não queria ouvir. Temos que combater uma série de dores e reverter em boas histórias”.
Luisa Lima falou sobre um dos seus trabalhos mais emblemáticos: ‘Histórias Impossíveis’. “A gente escancara diversas formas de opressão e violência sofridas por mulheres negras, indígenas, trans e idosas”, comentou. A diretora ressalta, ainda, que acredita na liberdade da TV como uma forma de coragem para apresentar novas experiências por meio dela.
O músico Jonathan Ferr enxerga a liberdade como uma grande potência criadora. “Liberdade é paz e movimento. Quem não se movimenta não percebe as correntes que o aprisiona. Me libertei artisticamente e me permiti não ligar para opinião de ninguém”, afirmou.
Histórias que atravessam um oceano
O poder da arte nas conexões e a potência da representatividade permeou a conversa entre a atriz congolesa Prudence Kalambay, Lázaro Ramos e Tais Araújo, mediada pela jornalista Lilian Ribeiro.
Relembrando o encontro com Lázaro no Festival Negritudes 2023, em São Paulo, Prudence reiterou como o ator e Taís Araújo foram inspirações, inclusive, para que ela aprendesse a língua portuguesa, ao acompanhar novelas da Globo enquanto vivia em Angola. O sonho de conhecê-los foi um dos motivos que a trouxe para o Brasil. “O Brasil é um país de oportunidades e estou muito feliz de estar aqui. Sou uma artista e venho de um país que passou por muitas guerras. Estar perto desse casal é também mostrar a nossa representatividade e ancestralidade de verdade”.
Comovida, Taís Araújo reforçou como a arte pode ser potente ao conectar vidas e histórias, como no caso de Prudence, refugiada do Congo.“É a coisa mais linda como a arte consegue transformar vidas, pessoas e povos. Podemos chamar esse encontro de o poder da arte”, reforçou. A atriz enfatizou a evolução da TV brasileira ao trazer e criar narrativas negras no audiovisual e citou como exemplo a série ‘Mister Brau’. “A gente, enquanto público, precisa consumir essa mudança, é o tal do Black Money, que os americanos já entenderam há alguns anos”.
Lázaro Ramos citou sobre a vontade de ver os corpos negros em diversos tipos de histórias. “Essa diversidade tem me interessado e a possibilidade de a gente se produzir é um desafio. Inclusive eu fiz essa transição para o outro lado e fico feliz de ver novos produtores chegando, mostrando a potência das nossas histórias e da nossa presença nas suas histórias”, comentou.
Para o ator, três pilares são importantes atualmente: representatividade, presença e representação positiva.
Somos o sonho dos nossos ancestrais: Tributos Negros
Ovacionados pelo público, os veteranos Zezé Motta e Antonio Pitanga participaram de um papo sobre as ancestralidades negras e seu impacto no audiovisual. O diretor da Fundação Ford Átila Roque completou a mesa, mediada pela apresentadora Rita Batista.
Antonio Pitanga fez questão de reverenciar personalidades negras importantes que vieram antes, em diversas esferas, como Luiz Gama, Machado de Assis, Benjamin de Oliveira, Lima Barreto, Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Léa Garcia, entre outros. “Com meus 85 anos ver essa negritude na tela é muito importante. É sinal que a caminhada tem valido a pena”, disse.
Zezé Motta dividiu o mesmo sentimento de felicidade ao lembrar de sua trajetória como artista. “É uma sensação de que tudo valeu a pena ao saber que sirvo de inspiração para negros e negras. Estamos percebendo muitas mudanças e é muito bom abrir esses caminhos”, afirmou a atriz e cantora.
Átila Roque reforçou a importância dos artistas negros que lhe serviram de exemplo em sua juventude, citando Pitanga, Zezé, Toni Tornado, Milton Nascimento, entre outros. “São artistas que ampliaram a nossa capacidade de ver e escutar. De imaginar o Brasil muito além do que era ofertado naquele momento”.