Notícia: “A evasão no ensino médio sempre foi um desafio, mas sem a interação social ficou pior.”

“A evasão no ensino médio sempre foi um desafio, mas sem a interação social ficou pior.”

Impactos da pandemia no Ensino Médio

Após a pandemia, a educação pública brasileira não é a mesma. Além de aumentar as desigualdades entre ricos e pobres no país, problemas como evasão escolar, desempenho escolar e distorção idade/série, sobretudo entre os estudantes dos anos finais do Ensino Médio, se intensificaram.

Se antes do fechamento das escolas, cerca de 95% dos estudantes terminavam a escola pública sem o conhecimento esperado em matemática, de acordo com dados do Saeb de 2019, este índice pode ser ainda pior caso nada seja feito nos próximos anos.

Em 2021, 96,6% dos estudantes da rede estadual de São Paulo se formaram no ensino médio com desempenho abaixo do adequado em matemática. Na prática, o aluno da 3ª série do ensino médio saiu da escola com proficiência de matemática adequada a de um estudante do 7º ano do ensino fundamental. Uma defasagem de 6 anos.

Gráfico mostrando a diminuição de alunos no comparativo entre 2019 e 2021
Desempenho de Matemática dos estudantes da rede estadual de São Paulo nos anos de 2021 e 2019 (reprodução Uol Educação).

Além do baixo desempenho, outro fator preocupante é a distorção idade/série. Um levantamento do Todos Pela Educação com dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) trouxe este alerta. Houve um aumento do número de jovens de 15 a 17 anos que estavam frequentando etapas educacionais anteriores (Ensino Fundamental regular, EJA do fundamental ou Alfabetização de jovens e adultos), passando de 1,6 milhão em 2020 para, aproximadamente, 1,9 milhão em 2021.

Um relatório divulgado pela Unicef também trouxe um dado importante: 1 em cada 10 estudantes de 10 a 15 anos não planeja voltar a estudar após a pandemia.

Diante de tantos desafios, o que podemos fazer para ampliar o acesso e garantir a permanência das juventudes nas escolas?

Para conversar sobre esses temas, o Futura convidou Fransueli Bahr, especialista pedagógica da Associação Nova Escola. Licenciada em Física e Mestre em Educação Científica e Tecnológica pela UFSC, Fran já deu aulas para o Ensino Fundamental, Médio e Superior.

Mulher branca de blusa vermelha com detalhes brancos está sorridente em frente a um portão de ferro

Futura: Até 2020, você trabalhava em uma escola social em Florianópolis dando aulas de Física para alunos em situação de vulnerabilidade social. Como foi dar aulas com as escolas fechadas?

Fran Bahr: Assim que recebemos a notícia do fechamento das escolas, ficamos mais de um mês sem aula e sem contato com os estudantes tentando entender o que fazer. Os professores se reuniram para pensar num plano de retorno ou não retorno.

A grande maioria dos alunos não tinha computador em casa, só tinha celular dos pais. Então, começamos a produzir atividades impressas. Os alunos jantavam na escola e o isolamento trouxe mais este impacto para eles: uma refeição a menos. A escola passou a fornecer cestas básicas 1 vez por semana e, quando eles iam buscar as cestas, recebiam também folhas impressas com atividades. Na semana seguinte, vinham as respostas. Também formamos grupos de WhatsApp com os alunos onde era enviado videoaulas.

Futura: E como era a adesão dos alunos? Você notou uma evasão neste período?

Fran Bahr: A nossa preocupação com a evasão escolar era altíssima. Era bem difícil manter uma conexão com os alunos à distância. Pouquíssimos alunos entregam as folhinhas com as respostas e muitos desistiram das atividades. A escola ligava para os pais, família e alunos para tentar recuperá-los. Estabelecemos um mínimo de entrega para que os estudantes não repetissem de ano, mas não significa que tivemos alunos engajados.

Aspas

Na pandemia, tivemos que fazer uma busca ativa de todos os alunos.

Fran Bahr

Aspas

A principal estratégia é mapear e entender o contexto em que o aluno está inserido. Ele não está fazendo as atividades propostas? Então, temos que entender em que condições o aluno se encontra. O desafio é realizar essa aproximação após tanto tempo distante dos alunos devido ao fechamento das escolas.

Futura: Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 3 em cada 4 crianças que cursam o ensino fundamental estão com as habilidades de leitura defasadas. O ensino de matemática e português chegou a regredir em 1 década. Quais políticas públicas devem ser priorizadas para recuperar este déficit educacional?

Fran Bahr: A priorização curricular feita pela Secretaria de Educação é fundamental. Além disso, também é importante promover políticas que visem manter os alunos na escola para além do ensino e aprendizagem, como garantir o transporte e alimentação do estudante, por exemplo. Por fim, é preciso traçar políticas voltadas para recursos didáticos.

Futura: Conseguimos estimar em anos o atraso educacional gerado pela pandemia?

Fran Bahr: Certamente antes da pandemia já tinham muitas lacunas na aprendizagem. Tivemos uma mudança significativa curricular com a BNCC. Em 2019, estávamos começando a identificar o que esse novo currículo propõe.

O PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) era muito focado em conteúdos e agora a BNCC tem um foco maior nas habilidades. A BNCC para o Ensino Médio prevê que o aluno já possui todas as habilidades do ensino fundamental e nem sempre isso acontece. Após 2 anos de afastamento das escolas, muitos alunos não solidificaram a aprendizagem que eles tiveram em anos anteriores. Por isso, é muito difícil estimar a quantidade de anos de atraso.

Futura: E o que deve ser feito para que isso aconteça?

Fran Bahr: Primeiro, precisamos diagnosticar o que o aluno não aprendeu, o que ele aprendeu e o quanto aprendeu. Depois, devemos traçar o mínimo possível para que ele consiga sair da escola com aquele conhecimento.

Os materiais didáticos que temos precisam ser revistos. Existem alunos do ensino médico com dificuldades na leitura e na escrita. E o processo de alfabetização e aprendizagem destes alunos é completamente diferente daqueles que estão com idade entre 5-7 anos. Além disso, cada aluno voltou da pandemia com suas particularidades, as turmas estão super heterogêneas. É preciso fazer uma priorização curricular.

Futura: Quais foram os impactos que o fechamento das escolas trouxe para a Educação Pública? (os prejuízos que o fechamento das escolas devido à Covid-19 trouxe para a Educação Pública?

Fran Bahr: Não estar no dia a dia da escola faz com que o aluno acabe perdendo o engajamento e o desejo em aprender. O estudante também perde a oportunidade de estar num ambiente adequado para aprendizagem, além das interações sociais fundamentais para o desenvolvimento.

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