Notícia: Investimento no Cais do Valongo e campanha de combate ao racismo marcam seminário sobre diversidade étnico-racial

Investimento no Cais do Valongo e campanha de combate ao racismo marcam seminário sobre diversidade étnico-racial

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No dia 23 de maio, aconteceu o seminário "Empoderamento negro para transformação da economia", realizado na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro. Discussões sobre os impactos positivos da diversidade étnico-racial nos setores financeiro e empresarial marcaram o evento.

Durante a cerimônia, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, assumiu compromissos para o avanço da igualdade racial no Brasil e no mundo com a proposta de uma nova campanha para incluir o combate ao racismo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). O presidente informou mudanças nas políticas internas e nos investimentos ligados ao banco.

Ao explicar as etapas do novo projeto do BNDES ligado à história e à cultura negra, Mercadante lembrou da experiência de recuperação realizada no Pelourinho, em Salvador, e alertou sobre os cuidados necessários para que a especulação imobiliária não descaracterize a população tradicional da região.

"Muita gente que morava lá [no Pelourinho] não ficou. Quando você recupera uma área, a ação da especulação imobiliária e dos empreendimentos mais comerciais acaba destruindo parte da memória. O desafio é nos organizarmos para resguardar a memória que está lá."

Três pessoas estão de pé, sorrindo. À esquerda, uma mulher negra sorri e bate palma. No meio, um homem pardo sorri. À direita, outra mulher negra sorri enquanto ajusta seu paletó,
Anielle Franco, Aloizio Mercadante e Margareth Menezes, durante divulgação de ações no seminário.

Cais do Valongo receberá investimentos

O sítio arqueológico Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, foi revelado durante as obras do Porto Maravilha, em 2011, e recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, em 2017, por ser o principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e na América.

O seminário também foi palco para divulgação da iniciativa "Valongo: Museu Vivo e Distrito Cultural Pequena África", que receberá investimento de 20 milhões de reais

A iniciativa propõe políticas públicas para garantir a salvaguarda e a promoção desse sítio. De acordo com Mercadante, não se trata apenas de financiar o restauro da região, mas de estabelecer um novo conceito na criação do Museu Vivo da Pequena África, associado as instituições e manifestações culturais guardiãs da herança africana no território.

"O nosso museu será um museu vivo em um território cultural, ancestral e que pode ser uma grande referência internacional. Eu imagino as famílias negras espalhadas por esse planeta querendo vir aqui no Brasil para conhecê-lo", declarou Mercadante.  

Em julho deste ano, será aberta uma chamada pública para seleção do parceiro que será o gestor dos recursos. Em novembro, terão início os trabalhos de estruturação dos projetos. Já a inauguração do novo museu e a etapa final estão marcadas para 2026.

A iniciativa tem previsão orçamentária de 20 milhões de reais, sendo 10 milhões do BNDES e 10 milhões que virão da criação de um novo fundo internacional levantado por fundações e outras organizações.  

Segundo o presidente do BNDES, 7 milhões de reais serão alocados em pesquisas sobre a região da Pequena África e na criação do edital internacional para o restauro do Armazém Docas -, obra do engenheiro negro e abolicionista André Rebouças -, onde será a sede do novo museu, na região portuáriao do Rio de Janeiro.

A iniciativa tem coordenação executiva do BNDES, envolve três ministérios e conta com a participação do comitê gestor formado por organizações negras.

O seminário "Empoderamento negro para transformação da economia" contou com apresentação da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira e painéis com as ministras de Estado, Margareth Menezes e Anielle Franco; o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge; a presidente do Conselho Adm. do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano; o CEO da Mondelez Brasil, Liel Miranda; a jornalista e ex-apresentadora do Entrevista, no Canal Futura, Flávia Oliveira; a fundadora do CEERT, Cida Bento; o embaixador da África do Sul, Vusumuzi W. Mavimbela, e outros intelectuais e executivos.

O seminário foi realizado com apoio da Open Society Foundations e contou com a participação do diretor para América Latina da instituição, Pedro Abramovay, que destacou a importância de mobilizar a sociedade brasileira no combater àas desigualdades raciais.

“O seminário apresenta ações concretas que o Estado e o setor privado podem se empenhar para colaborar com movimentos históricos de luta por justiça racial no Brasil. É fundamental apoiar encontros que mobilizem atores diversos, em um esforço conjunto para fortalecer a democracia”, disse Abramovay.

O gerente-adjunto do Canal Futura, Acácio Jacinto, também esteve no evento e considera a iniciativa necessária para diminuir as desigualdades: "momentos como esses são fundamentais para acelerar a promoção da igualdade racial no Brasil. O Canal Futura busca trabalhar essa agenda propositiva na tela e em projetos especiais, como, por exemplo, 'A Cor da Cultura', e tantas outras iniciativas da Fundação Roberto Marinho que contribuem para transformação social", explicou Acácio.  

Homem negro está sentado, sorrindo e batendo palmas.
João Jorge, presidente da Fundação Cultural Palmares, durante as discussões do evento na sede do BNDES.

Nova campanha de combate ao racismo 

O presidente do BNDES anunciou também que o Brasil começará uma campanha internacional para incluir o combate ao racismo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU): "A ONU trata de questões de educação, meio ambiente, mulheres, mas não trata da questão racial. Nós queremos que isso esteja nos objetivos do milênio", declarou Mercadante, que disse que organizará a campanha com os embaixadores da África no Brasil - e com a liderança do presidente Lula: "Queremos lançar uma campanha internacional para colocar essa agenda em discussão na ONU", afirmou.  

O jogador Vinícius Júnior também foi lembrado no evento, por ter sido alvo de ataques caracterizados como racistas durante jogo na Espanha, há alguns dias. "Estamos juntos contigo em busca de uma sociedade antirracista. O racismo e o fascismo, como disse o presidente Lula, não podem tomar conta de um estádio de futebol nem da sociedade", declarou Mercadante durante a leitura de uma carta de apoio ao jogador.  

A ministra de igualdade racial, Anielle Franco, também declarou apoio ao atleta e comunicou as ações tomadas pelo governo brasileiro. "A gente se posicionou diante do governo da Espanha, assinou nota conjunta, criou uma lei para auxiliar. Fomos até lá e assinamos um memorando sobre o combate ao racismo e à xenofobia duas semanas antes do acontecimento. Além de notificar a La Liga através do Ministério Público, vamos seguir tomando conta desse caso. Vamos pra cima das autoridades!", disse a ministra de igualdade racial.

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