Flup celebra a poesia falada com mundial de slam, Conceição Evaristo, Emicida, MV Bill, Marcelo D2 e mais estrelas
Compartilhar
Com patrocínio da Shell, a Festa Literária das Periferias (Flup) acontece de 12 a 15 e de 18 a 22 de outubro, no Rio de Janeiro
A 13ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup) vai ser mundial, com a presença de poetas dos cinco continentes para disputar o II World Poetry Slam Championship (WPSC), o Campeonato Mundial de Poetry Slam, e ainda vai reunir em mesas de debates Conceição Evaristo, Nêgo Bispo, Emicida, Leda Maria Martins, MV Bill e Marcelo D2, entre outras confirmações.
A programação musical conta com Rita Benneditto, Leci Brandão, Teresa Cristina, Bia Ferreira, Xamã, Linn da Quebrada e Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem. São nove dias de programação gratuita, de 12 a 15 e de 18 a 22 de outubro. As atividades se dividem entre a Vila Olímpica da Gamboa, Galpão da Ação da Cidadania e a Garagem Viação Regina's, tudo aos pés do Morro da Providência, a primeira favela do mundo.
"A ideia é fazer uma grande ode à poesia falada, ao slam, ao hip-hop e à oralidade ancestral que formam a literatura, a música, a cultura brasileira de diversas formas, fazendo da Providência uma encruzilhada das periferias globais, um favela de poesia", destaca Daniele Salles, diretora e porta-voz da Flup.
O festival entra, assim, no circuito das comemorações dos 50 anos do hip-hop no mundo e dos 15 anos da chegada dos slams ao Brasil, dentre eles 10 anos nos palcos do festival carioca. "O rap, o hip-hop e os slams se popularizaram em cenários semelhantes. A poesia política das periferias do mundo vai se encontrar na Flup", destaca Julio Ludemir, diretor-fundador da Flup.
O festival homenageia Machado de Assis, escritor e fundador da Academia Brasileira de Letras, que nasceu e cresceu na Ladeira do Livramento, na Providência, e Mãe Beata de Iemanjá, escritora e sacerdotisa de um sagrado "sem bíblia", fundadora do terreiro de Candomblé Ilê Axé Omiojuarô, em Miguel Couto, na Baixada Fluminense.
A programação conta ainda com uma série de mesas de debates sobre os 20 anos das cotas na UERJ, um dia dedicado a discussões sobre assédio e violência contra a mulher, o Dia da Escuta, Feira de Livros e extensa programação infantil. "A primeira favela do país, lugar que batizou o nome favela com a força de não precisar de tradução para nenhuma outra língua, vai receber uma extraordinária programação dedicada à palavra falada", completa Ludemir.
Encruzilhada do mundo
A segunda edição do mundial de poesia falada reunirá 40 poetas, de 40 diferentes países, dos cinco continentes. "Em seu sentido estrito o poetry slam ou slam, pode ser definido como um “jogo” e até mesmo o conceito “esporte da poesia falada” é usado para definí-lo", explica Roberta Estrela D'Alva, curadora da Flup e precursora do slam no Brasil.
Depois da primeira edição, na Bélgica em 2022, participam do II WPSC, no Rio de Janeiro, doze poetas de África, representando África do Sul, Níger, Gana, Guiné, Burkina Faso, Quênia, Nigéria, Moçambique, Costa do Marfim e Marrocos. Da Europa também são doze, vindos da Bélgica, Itália, Luxemburgo, Inglaterra, Espanha, Eslovênia, Chipre, Eslováquia, República Tcheca, Irlanda e Lituânia. Da Ásia, Japão e Israel. Da Oceania, Nova Zelândia e Austrália têm representantes. E das Américas, disputam poetas do Canadá, México, República Dominicana, Costa Rica, Haiti, Uruguai, Colômbia, Chile, Venezuela, Peru, Argentina e Brasil. O representante brasileiro é o jovem OCotta, cuja carreira como slammer começou em um dos processos formativos da Flup, o Slam Colegial de 2017.
O WPSC terá quatro línguas oficiais: português, espanhol, francês e inglês, com traduções simultâneas e intérpretes de libras, e os poetas que vão performar em língua nativa - 13 no total. Todas as rodadas e a final serão transmitidas ao vivo pelo Youtube da Flup.
Segundo Estrela D'Alva, os slams se converteram em ágoras onde questões da atualidade são debatidas, em um acontecimento/movimento com traços marcantes não apenas artísticos, mas também socioculturais e políticos. "A interessante junção de política, arte, entretenimento e jogo, somados à sua vocação comunitária, fazem com que os slams sejam celebrados em comunidades com realidades completamente distintas no mundo todo com temas e abordagens totalmente distintas", destaca.
A banda afro-americana The Last Poets, considerados precursores do rap e influenciadores do cenário do hip-hop e do slam com seu icônico e revolucionário repertório de spoken word music, é uma das atrações internacionais confirmadas na programação. Além da performance artística, os músicos participam de uma mesa de debates com o rapper, ator, cineasta e escritor MV Bill, voz potente da Cidade de Deus. No domingo, dia 15, ele fecha a noite com um grande show.
O músico, escritor e ator Saul Williams, protagonista do filme independente Slam, de Marc Levin, melhor filme do Festival de Sundance em 1998, também participa da Flup. Ele e o diretor se encontram numa mesa de debate sobre o filme que contribuiu para os slams se espalharem pelo mundo. Willians também fará uma performance poética e participará da mesa "A Escola da Rua", com o rapper e escritor Emicida, no dia 13 de outubro. O debate pretende exaltar a potência da oralidade, a essência das ruas, ensinamentos das raízes afro-diaspóricas.
Além de sediar pela primeira vez uma competição mundial de Slam, trazendo 40 poetas, dos cinco continentes, haverá outras batalhas de poesia, dos dias 18 a 22 de outubro: o TransSlam Internacional, o II Slam Coalkan, primeiro slam indígena, o I Slam das Minas BR, o Slam de Cria, IV Batalha de Rimas e, para terminar cada uma das noites, shows que mostram a relevância da MPB, do samba para a poesia e literatura brasileira, coroando uma experiência de "Favela da Poesia".
Também faz parte da programação da Flup, a abertura da exposição "Gira da Poesia: 15 anos de slam no Brasil", no dia 18 de outubro, no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), que tem a curadoria de Roberta Estrela D’Alva, Julio Ludemir e Luiza Romão, que também participará de uma mesa com Chacal e Sérgio Vaz, com mediação de Heloísa Ferreira (ex-Buarque de Hollanda).
A concorrida peça "Macacos", de Clayton Nascimento, umas das produções de teatro mais aclamadas da atualidade, fecha com chave de ouro o primeiro fim de semana da Flup. O monólogo recebeu o Prêmio APCA 2022 e Nascimento foi o Melhor Ator do Prêmio Shell de Teatro 2023.
Literatura e Oralidade
A homenagem da Flup a Mãe Beata terá debates sobre o legado da criadora do Ilê Axé Omiojuarô com curadoria do ativista Jefferson Barbosa, autor da biografia Mãe do Mundo, a ser lançada na Flup no dia 13 de outubro. O babalorixá Adaílton Moreira, filho de Mãe Beata e líder Ilê Axé Omiojuarô, vai discutir a importância deste lançamento com Jurema Werneck, Lúcia Xavier e o próprio Jefferson Barbosa, com mediação de Maju Coutinho. Ainda no âmbito da homenagem à Ialorixá, haverá a mesa "A Casa da Mãe Beata e a Construção de Políticas Públicas para a População Negra", com a participação de Doya Moreira Costa, Laremi Emiliano, Thula Pires e mediação de Eliana Alves Cruz.
As homenagens à Mãe Beata continuam com as atividades da "Aldeia dos Caboclos", que ao longo de sete dias reunirá mães e pais de santo da região metropolitana do Rio de Janeiro para falar sobre sua experiência com os caboclos. Com curadoria de Valter Macumba, a Aldeia dos Caboclos terá shows que vão do Tecnomacumba de Rita Benneditto à voz ancestral de Tia Nicinha, passando por apresentações dos 22 terreiros envolvidos nesta ação, que terá líderes espirituais como Mãe Meninazinha, Torodi, Janaína Lázaro e o próprio Babá Adailton.
“Esse é o segundo ano que estamos com a Flup e apoiar um projeto como esse é motivo de orgulho para a Shell, que tem entre seus pilares valorizar as pessoas e a diversidade. A Shell tem o compromisso de construir e consolidar seu legado junto à sociedade brasileira, e celebrar a literatura e a cultura negra são ações fundamentais para isso”, afirma Glauco Paiva, gerente executivo de Comunicação e Responsabilidade Social da Shell Brasil.
Na segunda semana do festival, de 18 a 22 de outubro, a programação terá dias temáticos. A quarta-feira, dia 18, será dedicada a história do slam no Brasil e do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, coletivo que com Roberta Estrela D'Alva iniciou as batalhas de poesia falada nas praças perto de estações de metrô de São Paulo. O espetáculo Hip-Hop Blues, criado e produzido pelo Núcleo Bartolomeu, é uma das principais atrações do dia, além da exibição do primeiro episódio da série "Amar é para os fortes", da Prime Video, seguido de um debate com Marcelo D2, Yasmin Tayná, Katia Lund e mediação de Silvana Bahia.
Para pensar as narrativas das mulheres, no dia 19 de outubro, a mesa "Devolvam nossas histórias: as vozes de um tempo espiralar", vai promover o encontro entre Celia Tupinambá e Leda Maria Martins, com mediação de Audrey Pulvar. A mesa "E agora falamos nós: poéticas radicais" será mediada por Dani Nega e terá Amara Moira, Alice Coffin e Bia Ferreira, que depois fecha a noite com um show. Poetas de todas as federações do país disputam, neste dia, o Slam das Minas BR.
A pauta indígena estará no centro das discussões do dia 20 de outubro, com o II Slam Coalkan. A mesa "Literatura indígena contemporânea" tem como convidados Emil' Keme aka Emilio del Valle Escalante, da Guatemala, Graça Graúna e mediação de Trudruá Dorrico. Maryano Maia media a mesa "Poemas tatuados em nossas memórias", com Vanda Witoto e Xamã, que depois também apresenta suas músicas. Neste dia, a Aldeia dos Caboclos terá a presença da pajé Zeneide Xukuru, na qual falará de sua experiência com a jurema.
O penúltimo dia terá a segunda edição do Dia da Escuta, que começará às 10h com o lançamento do podcast homônimo. O projeto idealizado e curado pela ativista francesa Audrey Pulvar terá uma sequência de cinco mesas, que discutirão a epidemia do assédio sexual no mundo artístico, no mercado de trabalho e até mesmo na política. A atriz Nadege Beausson-Diagne, criadora do #MeTooAfrikan, e a jornalista Alice Coffin, uma das principais lideranças lésbicas francesas, estão entre os destaques de uma programação que terá Su Tonani, a deputada Dani Balbi, a escritora Clarice Fortunato Araújo, a atriz Verônica Debom e as poetas Valentine, Luíza Loroza e Checha, que dirão poemas sobre as violências sofridas por seus corpos.
Este dia também terá uma ampla programação trans, que terminará com uma Batalha Vogue e o show de Linn da Quebrada. Um grupo liderado pelo poeta e ativista Tom Grito organizará uma mesa para debater a transmasculinidade e a própria Linn da Quebrada discutirá a oralidade como uma forma de defesa das mulheres trans com a atriz e performer Kika Sena, com mediação da deputada Dani Balbi. O TransSlam terá poetas trans de cinco países da América do Sul.
A Flup 23 terminará no dia 22 de outubro com um debate envolvendo Assa Traoré e o Cacique Marcos Xukuru, que encontraram a mais perfeita tradução do axioma transformar o luto em luta. Ativista do ano da revista Times de 2020, Assa Traoré se tornou uma das mais relevantes lideranças periféricas da França depois que a polícia francesa assassinou seu irmão Adama. Não foi muito diferente com o Cacique Marcos Xukuru, cujo pai foi assassinado por pistoleiros na década de 1990 em represália a sua luta pela demarcação das terras do povo Xukuru na cidade de Pesqueira, no Agreste pernambucano.
Antes da mesa envolvendo Assa Traoré e Cacique Marcos Xukuru haverá a grande Batalha da Memória "Machado é Cria", uma gincana sobre a história da Providência com as seis maiores instituições do território encerrará um processo formativo que envolveu a quase totalidade das crianças da favela. Esse dia também será a conclusão de outro processo formativo, o Slam de Cria, que reunirá poetas que ganharam batalhas de poesia em cada uma das cinco regiões do país, depois de uma formação em poesia oral que durou três meses. A Batalha de Rima da Flup terá MCs de 16 estados da federação escolhidos por Anderson Reels e Jessé Andarilho, o Slam RJ escolherá o representante do Rio de Janeiro para o Slam BR e a Orquestra Sinfônica do Brasileira Jovem fará uma inédita mistura de Bach com os beats de Jonathan da Provi, o DJ do baile funk da Providência.
A Flup 23 é apresentada pelo Ministério da Cultura, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Shell. Tem patrocínio master da Shell, patrocínio do Instituto Cultural Vale e Itaú Unibanco, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e Globo, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei do ISS. O apoio é da Fundação Ford e do Instituto Ibirapitanga. Apoio institucional: Secretaria Municipal de Esportes. A Ação da Cidadania, a Fundação Roberto Marinho e o Canal Futura são parceiros. Realização: Grupo Pensar, Suave na Nave, Ministério da Cultura, Governo Federal.
Sobre a Shell Brasil
Há 110 anos no país, a Shell é uma empresa de energia integrada com participação em Upstream, no Novo Mercado de Gás Natural, Trading, Pesquisa & Desenvolvimento e no Desenvolvimento de Energias Renováveis, com um negócio de comercialização no mercado livre e produtos ambientais, a Shell Energy Brasil. Aqui, a distribuição de combustíveis é gerenciada pela joint-venture Raízen, que recentemente adquiriu também o negócio de lubrificantes da Shell Brasil.
A companhia trabalha para atender à crescente demanda por energia de forma econômica, ambiental e socialmente responsável, avaliando tendências e cenários para responder ao desafio do futuro da energia.