Setores ligados ao Carnaval enfrentam o cancelamento da festa
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A festividade emprega direta e indiretamente milhares de trabalhadores, que precisaram lidar com os impactos do não Carnaval
A celebração do Carnaval chegou ao Brasil entre os séculos XVI e XVII, trazida pelos portugueses. De lá para cá, o povo brasileiro foi adaptando a festa aos costumes de cada região. Assim, o Carnaval se consagrou a maior festa popular do país, tornando o Brasil conhecido mundialmente. Mas a pandemia de Covid-19 trouxe uma realidade desconhecida para a maioria dos brasileiros, o não Carnaval de 2021. Milhares de trabalhadores são empregados neste período da festividade, de maneira direta e indiretamente, e estes profissionais precisaram lidar com os impactos do ‘não Carnaval’
Estados e municípios cancelaram a festividade para evitar aglomerações e, consequentemente, o aumento de pessoas infectadas pelo coronavírus, que já matou mais de 240 mil habitantes do país. Dados do Ministério da Saúde revelam uma média acima de mil mortes diárias, no mês de fevereiro.
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Para o carnavalesco Edward Moraes, chefe de adereços e alegorias na escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense, apesar da tristeza, o momento é de prevenção.
Nós choramos ao ver a Sapucaí vazia. Acredito que a gente terá que ser vacinado primeiro para poder pensar no próximo Carnaval. Agora, é esperar a vacina e tomar os cuidados necessários para que possamos celebrar no próximo ano
Diz o carnavalesco
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Essa não é a primeira suspensão do Carnaval no Brasil
Em 1892, a festa foi adiada para junho por causa da preocupação com o lixo gerado pela celebração, durante o período em que o Brasil enfrentava doenças como a febre amarela. No ano de 1912, a data do festejo sofreu alteração em razão do falecimento do Barão do Rio Branco, semanas antes do Carnaval. Em ambas as ocasiões, a população desrespeitou a suspensão.
A não realização do Carnaval 2021 afetou diretamente setores ligados ao turismo, indústria, comércio e serviços. Em 2020, foram contratados mais 25 mil trabalhadores temporários, durante o período do festejo, conforme informa a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Fora as contratações formais, a folia nas ruas também gerou renda para trabalhadores informais. No ano passado, a capital paulista abriu vagas para 12 mil vendedores ambulantes trabalharem nos eventos carnavalescos.
A Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, do Rio de Janeiro, estima que os desfiles das escolas de samba empregam 65 mil pessoas, direta e indiretamente, considerado o período de preparação. O cancelamento da festividade também fez com que profissionais que trabalham em barracões, blocos e trios elétricos ficassem sem renda.
Edward Moraes fala sobre preocupação com esses funcionários. “As escolas distribuíram cestas básicas. Algumas escolas, como a Imperatriz, deram uma ajuda de custo aos trabalhadores. Muitas pessoas ainda estão desempregadas. Nossa maior preocupação são as pessoas. Todo mundo vê a beleza, mas esquece que por trás daquilo tem um ano todo de trabalho. Muita gente trabalha para pôr esse espetáculo na avenida“, desabafa Edward.
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Ele acrescenta que a construção do Carnaval envolve a mão de obra de costureiras, artesãos, carpinteiros, desenhistas, escultores, figurinistas, dentre outros trabalhadores, alguns deles conseguiram se manter com o auxílio emergencial. Pessoas como Cristiane Machado, chefe de costura da Imperatriz Leopoldinense.
“O cancelamento do Carnaval prejudicou demais as pessoas que trabalham dentro do barracão. Tem muita gente que precisa estar no barracão para levar o pão de cada dia para casa e ter as contas pagas em dia. Além da questão financeira, também temos o prazer de fazer o que gostamos. Na minha equipe têm muitas senhoras idosas, mais do que o sustento, o trabalho leva dignidade a elas. O Carnaval não é só uma festa, também é uma fábrica de sonhos. Vi pessoas realizarem sonhos graças ao trabalho no barracão”, diz a costureira.
Profissionais se reinventando
Assim como outros brasileiros, Cristiane precisou empreender. Durante a pandemia, ela decidiu trabalhar fazendo máscaras customizadas, para garantir sua renda.
“A pandemia chegou no fim do Carnaval 2020. Graças a um projeto da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) desenvolvido junto com a Imperatriz, eu e uma equipe pequena de costureiras trabalhamos por quatro meses produzindo máscaras e jalecos para doação. Outras escolas também produziram máscaras. Isso nos ajudou muito, mas depois desse período veio a preocupação, pois deveríamos começar a preparação para o Carnaval 2021, o que não aconteceu. As escolas ajudaram, sou muito grata a minha escola, mas infelizmente não dá para ajudar todo mundo. Então, tive que me reinventar e comecei a vender máscaras de proteção. Muita gente teve que empreender ou até mudar de profissão”, explica Cristiane.
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Quem também teve que se reinventar foi o tradicional Bloco Alvorada, de Salvador, conhecido pelo trabalho de preservação da história negra. O presidente Vadinho conta que as lives que reaproximaram o bloco do público:
Nós ficamos à deriva. sentimos muita falta do público. Pensei: O que eu vou fazer sexta-feira de manhã? Tivemos que nos readaptar. Nós fizemos lives sobre a história do Alvorada e a história musical. Os fundadores falaram sobre a diversidade cultural do s
Vadinho
As lives contaram com apoio financeiro do Programa Aldir Blanc Bahia, que também custeará o Memorial do Samba do Bloco Alvorada. Vadinho explica como o projeto tem ajudado a gerar empregos.
“Tivemos o projeto do memorial contemplado pela Lei Aldir Blanc. Isso envolve muito trabalho de pesquisa e documentação. Assim conseguimos empregar algumas pessoas”, fala o presidente, ressaltando a importância de manter os cuidados “Quero que isso passe logo, mas no momento não tem outro jeito. A culpa também é nossa, que não nos cuidamos como deveríamos. Temos que arrumar nossa casa (país) para podermos voltar a sorrir”.
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