Notícia: “É importante que a gestão escolar promova ações que visem a educação integral dos estudantes”

“É importante que a gestão escolar promova ações que visem a educação integral dos estudantes”

Saúde mental dos estudantes e o retorno às aulas presenciais

É indiscutível a importância do retorno às aulas presenciais após quase 2 anos de escolas fechadas. No entanto, esta retomada traz questões inéditas que precisam ser olhadas com muita atenção e cuidado.

A pandemia do coronavírus foi um período que ficará marcado na história e suscitou grande instabilidade, insegurança e medo. Muitas famílias tiveram perdas irreparáveis, seja de entes queridos ou até mesmo da renda familiar. Além do medo de contrair o vírus e as drásticas mudanças na rotina de cada um. Todos esses sentimentos podem acarretar um impacto na saúde mental dos estudantes e, consequentemente, afetar na aprendizagem.

No início de abril, uma crise de ansiedade atingiu 26 alunos de uma escola estadual em Recife. Em São Paulo, dois em cada três estudantes do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio da rede estadual relatam sintomas de depressão e ansiedade. Foi o que apontou um mapeamento realizado pela Secretaria de Educação de SP e o Instituto Ayrton Senna com 642 mil alunos.

Todas essas sensações são indissociáveis ao retorno às aulas. Durante esse período de isolamento social, não só o conteúdo pedagógico ficou comprometido, mas também as habilidades socioemocionais e a socialização dos alunos.

Sendo assim, é preciso pensar num retorno às aulas acolhedor e que respeite o tempo de recuperação de cada um. Para falar sobre a saúde mental dos estudantes e ajudar educadores, gestores escolares e pais neste retorno, conversamos com Gisele Alves, especialista em Educação Integral do Instituto Ayrton Senna.

Uma mulher loira está segurando o capacete verde e amarelo de Ayrton Sena e posando para a foto, à frente de uma parede com uma foto enorme do ídolo nacional usando o mesmo capacete
Gisele Alves, especialista em Educação Integral do Instituto Ayrton Senna. (Foto: divulgação)

Futura: Depressão, falta de ar, tremor e choro são alguns dos sintomas relatados por estudantes que tiveram uma crise de ansiedade em uma escola estadual de Recife no dia 8 de abril. Como a comunidade escolar pode proceder diante de casos como esse?

Gisele Alves: Uma vez que crises já estejam em curso, sejam elas individuais ou coletivas, a segurança dos estudantes deve ser assegurada para que na sequência as áreas de saúde mental possam atuar, o que deve acontecer com as famílias sendo participadas das ocorrências. Assim, instâncias emergenciais e ambulatoriais de saúde devem ser acionadas pelas escolas, bem como os responsáveis pelos estudantes.

Diante de um cenário em que sintomas de depressão e ansiedade são tão frequentemente relatados é imprescindível que haja um trabalho intersetorial e emergencial com a Secretaria de Saúde para que casos clínicos recebam as intervenções psiquiátricas e psicológicas cabíveis, sejam elas preventivas (antes de haver diagnóstico clínico) ou remediativas (isto é, depois de haver diagnóstico).

Futura: Qual a importância da aprendizagem das habilidades socioemocionais, sobretudo pós-pandemia?

Gisele Alves: No âmbito escolar, é importante à gestão garantir a implementação, acompanhamento e monitoramento das ações que visem a educação integral dos estudantes, o que inclui apoio no desenvolvimento de competências socioemocionais.

Essas competências podem ajudá-los a lidar com emoções negativas como tristeza, ansiedade e raiva (como é o caso da macrocompetência resiliência emocional, à saber, tolerância ao estresse, frustração e autoconfiança), com as dificuldades de concentração (foco) e no estabelecimento de metas (determinação), frequentes quando a saúde mental está prejudicada.

O desenvolvimento das competências socioemocionais também pode apoiá-los nas relações intra e interpessoais, como confiança (ou seja, a capacidade de criar expectativas positivas sobre outrem e de se sentir suporte de suas redes de apoio) e entusiasmo (energia para abordar as situações da vida).

Além disso, o exercício de competências socioemocionais como curiosidade para aprender (de Abertura ao novo) e determinação (de Autogestão), por sua vez, são capazes de influenciar positivamente a própria recuperação da aprendizagem, sendo associadas a 5,5 meses a mais de aprendizado em língua portuguesa no caso das competências de abertura ao novo e a 3,5 meses a mais em matemática no caso das de autogestão. Assim, elas são importantes para o desenvolvimento pleno do estudante e especificamente apoiam de modo particular o atingimento de resultados em proficiência acadêmica.

Para que tudo isso aconteça, é necessário que haja apoio docente adequado, como a formação dos educadores para sensibilização e aprofundamento no tema e práticas, e também o estímulo à participação das famílias também na vida escolar dos estudantes.

Futura: Quais medidas podem ser feitas para tornar este retorno às aulas presenciais mais gentil e acolhedor?

Gisele Alves: Vou destacar aqui cinco pontos centrais para a retomada e que podem contribuir com o foco de atenção no planejamento da volta à escola:

  1. Restabelecimento da sensação de segurança: é recomendável que se abra espaço para discussão sobre a questão, avaliando a veracidade de informações que nos cercam e estabelecendo um senso de segurança e pertencimento à escola. Se esses assuntos forem evitados, pode-se acabar gerando um crescimento da sensação de insegurança.
  2. Restabelecimento da estabilidade: é fundamental a apresentação de uma nova rotina escolar estruturada, que esteja aberta às perguntas e dúvidas que podem surgir das crianças e jovens.
  3. Promover espaços de escuta: criar um espaço para o exercício do pensamento crítico, para vazão aos sentimentos, para o esclarecimento e a escuta aos estudantes. Este espaço de escuta pode ser estabelecido com propostas pontuais sobre a temática da pandemia e momentos de discussão sobre dúvidas e informações que circularam nesse tempo. Com os mais novos, também é possível trabalhar com produções gráficas sobre o tema
  4. Relação família-escola: é possível fazer isso apresentando à família a nova organização da escola e os cronogramas que serão seguidos, aproveitando sempre para engajá-la e convidá-la a contribuir para essa nova organização.
  5. Relação entre estudantes, professores e profissionais da escola: promover mais atividades em grupo ou reservar momentos para que os grupos possam conversar sobre o dia a dia, seus temores e anseios, bem como para que as redes de apoio sejam construídas e reforçadas.

Confira a cartilha “De volta à escola: estratégias para a acolhida pós-isolamento social”, produzida pelo Instituto Ayrton Senna

Futura: Como motivar os estudantes a aprender?

Gisele Alves: O professor que possui um estilo motivacional de facilitador da autonomia da aprendizagem promove o desenvolvimento dos estudantes, fortalece a autorregulação e proporciona um ambiente que respeita e inspira as habilidades e características de todos. Ao colocar em prática estratégias para desenvolver a motivação do estudante para aprender, o professor contribui para o “protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida”40(p.15), um dos objetivos de desenvolvimento preconizados pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Educadores com esse estilo motivacional estimulam o pensamento crítico e criativo dos seus estudantes, fortalecendo a autorregulação e promovendo um ambiente de sala de aula positivo.

Facilitar a autonomia dos estudantes significa incentivá-los a fazer suas escolhas, a serem ativos na tomada de decisão sobre sua formação e orientá-los a se identificar com os objetivos e metas de aprendizagem estabelecidas em sala de aula. Para tanto, o professor precisa incluir em suas aulas oportunidades para essas vivências e usar, intencionalmente, os momentos de planejamento, mediação e avaliação.

Professor escrevendo em um quadro negro em sala de aula

Precisamos falar de Educação

Todos os anos, durante o mês de abril, a Fundação Roberto Marinho e uma aliança estratégica de parceiros unem esforços a partir da mobilização institucional para causas relevantes na agenda educacional brasileira.

Em 2022, o foco da mobilização está no acompanhamento das medidas para mitigação dos efeitos da pandemia.

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/casos-de-ansiedade-e-depressao-cresceram-25-durante-pandemia-diz-oms/

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