Notícia: O ensino das competências socioemocionais nas escolas

O ensino das competências socioemocionais nas escolas

Debate desta terça-feira (06/10) dá início à programação do Dia dos Professores e discute como formar educadores para desenvolver estas competências socioemocionais previstas na BNCC com seus alunos

A pandemia do novo coronavírus e o ensino remoto reforçaram as discussões sobre uma educação que vá além dos conteúdos tradicionais e desenvolva, também, habilidades como a empatia, a determinação, a organização e outras. Estes conhecimentos fazem parte das competências socioemocionais, cujo desenvolvimento está previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e é o caminho para uma educação que leve em conta a formação plena dos alunos e alunas. Os cinco grandes grupos destas habilidades envolvem resiliência emocional, amabilidade, abertura ao novo, engajamento com outros e autogestão.

Imagem de uma sala de aula do Jardim de Infância, pois várias crianças pequenas estão sentadas em cadeiras e mesinhas coloridas
Como formar educadores para desenvolver as competências socioemocionais previstas na BNCC com seus estudantes?

O tema da mobilização da Fundação Roberto Marinho #Nem1PraTrás prioriza, em 2020, o reconhecimento da autoria e do protagonismo dos professores. Mas como prepará-los para ensinar estas competências?

O Debate dessa terça-feira (06/10) dá início à programação especial do Dia dos Professores, celebrado em 15 de outubro, e discute quais são os desafios da formação desses profissionais antes e durante a pandemia – e a importância das competências socioemocionais previstas na BNCC para o desenvolvimento dos estudantes.

Assista agora ao Debate sobre Habilidades Socioemocionais no Futura Play!

Para entender melhor essas temáticas, o apresentador Cristiano Reckziegel conversou com a Gisele Alves, gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna (IAS), com a Alessandra Beker, coordenadora de Formação Continuada da Secretaria de Educação do Mato Grosso do Sul, e com a Juliana Malherme, professora de Protagonismo e Projeto de Vida da rede municipal de Teresina, no Piauí.

O Debate também trouxe algumas iniciativas inovadoras de professores que trabalham as competências socioemocionais com seus alunos. Participaram a Priscila Freitas Machado, professora da Educação Infantil na Rede Municipal de Palmas (TO), e o Rodrigo Seixas, professor de sociologia e geografia do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio.

Imagem de Gisele, uma mulher morena, de cabelos castanhos e soltos
Gisele Alves, gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna, conta da iniciativa do IAS chamada “Volta ao Novo – Programa de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais”. (Foto: Márcio Schimming | Instituto Ayrton Senna)

Gisele Alves, gerente de projetos do IAS, conta que, há algum tempo, a organização observa que apenas o conhecimento técnico e acadêmico não é suficiente para a educação de crianças e adolescentes. “Então, estudiosos da educação perceberam que competências como o foco, a persistência, a determinação, a amabilidade e a abertura ao novo são igualmente importantes para o sucesso desses estudantes, não só durante a sua fase de desenvolvimento em idade escolar, mas também em resultados futuros enquanto adultos e até mesmo na velhice”, explica.

Com o objetivo de apoiar os professores, estudantes e gestores no processo de retomada das aulas presenciais, contando com o auxílio dessas competências, o Instituto Ayrton Senna (IAS) lançou uma parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), chamada “Volta ao Novo – Programa de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais”. A iniciativa trouxe materiais de apoio, lives e cursos, para que a comunidade escolar consiga lidar melhor com os desafios que surgiram com a pandemia.

Formação dos professores

Para a implementação das competências socioemocionais no ambiente escolar, o Brasil ainda enfrenta um grande desafio: a capacitação dos professores para este ensino.

Para entender quais são as possíveis estratégias para colocar essa formação em prática, o Debate conversou com a Alessandra Beker, que coordena a área de formação continuada da Secretaria de Educação do Mato Grosso do Sul. No estado, há um trabalho voltado para as competências socioemocionais desde 2018.

Imagem de Alessandra, uma mulher branca, loira, sorridente e bem arrumada
Alessandra Beker (Secretaria de Educação do Mato Grosso do Sul) conta que os professores perceberam que o desenvolvimento das competências socioemocionais deles e dos estudantes auxilia tanto no processo cognitivo, de aprendizagem, como no enfrentamento d

Em 2019, foi realizado um processo formativo em 88 escolas, com a participação de 200 professores, fruto de uma parceria com o Instituto Ayrton Senna. Beker explica que, em 2020, uma reorganização foi necessária, mas ela acredita que a formação está sendo ainda mais útil para os professores neste momento de crise. “Eles perceberam que o desenvolvimento das competências socioemocionais deles e dos estudantes auxilia tanto no processo cognitivo, de aprendizagem, como no enfrentamento da pandemia”, pontua.

Para ouvir quem está na ponta do processo, o Debate também recebeu a professora Juliana Malherme, que trabalha com a disciplina de Protagonismo e Projeto de Vida na rede municipal de Teresina (PI). Ela conta que passou a ter um contato maior com as competências socioemocionais a partir de um curso de formação continuada, em 2019.

Depois disso, a professora percebeu que as questões emocionais ficam muito latentes em sala de aula e que esta disciplina é um espaço que dá voz ao estudante, em que ele vai falar um pouco sobre ele mesmo, exercitar o autoconhecimento. “A partir do momento em que eu observei essas competências socioemocionais como algo que eu posso trazer para a minha intencionalidade pedagógica, isso fez muita diferença”, reforça.

Imagem da professora Juliana, uma mulher negra, de tranças escuras e bem sorridente
Para a professora Juliana Malherme, as competências socioemocionais, presentes na BNCC, dá espaço e dá voz ao estudante, (Foto: Acervo pessoal)
Projetos inovadores

Por meio do trabalho das Secretarias de Educação e das organizações da sociedade civil, um número cada vez maior de professores vem elaborando atividades para desenvolver as competências socioemocionais em seus alunos.  A professora Priscila de Freitas Machado atua na Educação Infantil da rede municipal de Palmas (TO) e desenvolveu o projeto “Brincadiquê?”, com o objetivo de ajudar as crianças a passarem pela semana de adaptação na escola.

Machado ofereceu brinquedos, materiais não estruturados e contextos de brincadeiras em que os pequenos eram os protagonistas. “Eu penso que a amabilidade começou no processo de acolhimento, de organização desse espaço para receber as crianças e na questão de se colocar no lugar delas, que tinham acabado de chegar em um ambiente totalmente diferente do que estavam acostumadas até então”, conta. O projeto se destacou tanto que foi finalista do Prêmio Educador Nota 10 de 2020.

Imagem da professora Priscila, uma jovem mulher negra, de cabelos escuros e alisados, brincos prateados compridos. Ela está bem arrumada e maquiada na foto.
A professora Priscila Machado usou as competências socioemocionais com seu seus amigos e seu projeto pedagógico foi um dos finalistas do Prêmio Educador Nota 10 de 2020. (Foto: Acervo Pessoal)

O educador Rodrigo Seixas também desenvolveu uma iniciativa inovadora para trabalhar as competências socioemocionais com seus alunos. O professor de sociologia e geografia do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio criou o projeto “Um Passeio pelos Tempos Líquidos”, a partir do pensamento do filósofo polonês Zygmunt Bauman.

A metodologia utilizada foi a de “Rotação por Estações de Aprendizagem”, que pressupõe a criação de um circuito de ensino híbrido, com diferentes estratégias, em que ao menos uma das etapas leve em conta o uso de tecnologia digital. Temas contemporâneos, como relações amorosas e redes sociais, foram trabalhados pelos alunos com a comunidade escolar, a partir de recursos como uma roleta de perguntas da fé, um teste de medir egoísmo, charges e memes. Com essa iniciativa, Seixas foi um dos vencedores do Prêmio Educador Nota 10 de 2019.

O professor contou ao Debate que acredita que o projeto seja relevante neste contexto de pandemia, uma vez que o cenário do ensino remoto vai ao encontro dos pensamentos de Bauman, com um mundo fluindo de forma cada vez mais líquida. “Além disso, as competências socioemocionais, que também são trabalhadas no projeto, se tornam ainda mais importantes, porque, nesse momento de aulas à distância, os alunos vão precisar de habilidades como a autogestão, a persistência e a resiliência”, explica.

Imagem de Rodrigo, um homem branco, barbudo, quase totalmente careca, de óculos de grau, terno, gravata vermelha e está sorrindo e segurando um troféu de Educador Nota 10
De acordo com o professor de Filosofia Rodrigo Seixas, as competências socioemocionais se tornaram ainda mais importantes: “Nesse momento de aulas à distância, os alunos vão precisar de habilidades como a autogestão, a persistência e a resiliência.” (Foto

Para um futuro tão incerto, a esperança em uma educação melhor e mais próxima da realidade é a alternativa para muitos professores. “Eu espero que, nesse ‘novo normal’, a gente tenha uma escola mais humana, que pense no desenvolvimento integral do estudante, e que a gente volte para as escolas pensando mais na empatia, com a resiliência emocional fortalecida e que esse exercício de autogestão que nós fizemos sirva como uma motivação a mais para enxergar que as competências socioemocionais estão inseridas na educação. Então eu acredito que esse momento grita a urgência das competências socioemocionais dentro do ambiente escolar”, pontua a professora Juliana Malherme.

Você confere essas temáticas no Debate apresentado por Cristiano Reckziegel, nesta terça-feira (06/10), às 21h, nas telas do Canal Futura, e disponível também no Futura Play.

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